Sunday, December 11, 2005

Eu nunca tive uma máquina de escrever

Hermes baby. Esse é um nome engraçado que descobri recentemente. Vocês sabem o que é uma Hermes baby? Sim, sim, "uma", Hermes baby é "uma" coisa, e não "um" coiso. Bem, não importa se vocês sabem ou não o que é uma Hermes baby, mas eu não sabia o que era uma Hermes baby, sei agora e é isso o que importa. Ponto. Interrogação.*

Hermes baby, sei eu agora, é uma máquina de escrever - seria mais preciso dizer "máquina de datilografia", mas isso tiraria toda a graça do texto. Eu nunca vi uma Hermes baby. Já vi máquinas de escrever (novamente me assombra a "datilografia"). Lembro-me de minha mãe com uma delas, na antiga sala da casa. Mas eu não sou Proust (nem Prost) e só lembro que em minha casa havia uma máquina de escrever e que minha mãe a usava. Ponto.

A máquina que minha mãe usava não devia ser nenhuma Hermes baby. Era uma máquina grande e pesada, com um capa cor-de-burro-quando-foge**. Não tinha toda a beleza, a leveza, a meiguice, a singeleza que um objeto com o nome de Hermes baby deve ter. Se tivesse um nome aquela máquina (Se! Se! Um trombolho como aquele não devia ser digno nem de um nome!), devia se chamar algo como Mamooth Typing Machine, ou Grande Monolito, ou ainda simplesmente O Trombolho de Casa! Os dedos gordinhos de minha mãe (uma mortal, uma reles mortal) não poderiam nunca ousar tocar a santidade de uma Hermes baby!

Já eu, eu nunca tive uma máquina de escrever (exorcizem de mim esse demônio datilográfico!). Nem uma Hermes baby nem uma Mamooth Typing Machine. Durante muito tempo, escrevi artesanalmente com lápis e caneta, em folhas de caderno, papel chamex, apostilas de matemática, bordas de livros. Ainda guardo vícios dessa pré-história da minha escrita. Mas hoje sou moderninho oba-oba e só escrevo no pc. Pelo menos quase sempre e o de mais relevante. De preferência, escrevo na janela do blogger, correndo todos os riscos de perder o texto - o que, ironicamente, também ocorreu com esse texto (salve salve minha memória!).

Como os mais espertinhos de vocês já devem ter percebido, o fim*** desse texto enrolado não é sobre Hermes baby, máquina de escrever, minha mãe ou histórias de como comecei a escrever. Esse texto é para dizer que, depois de tanto tempo sem atualizar o blog, eu estou voltando. Não sei se aos pouquinhos ou se com um monte de textos. Não sei se melhor ou pior, igual ou diferente. Sei que certo dia descobri o que era uma Hermes baby e tive vontade de escrever um texto chamado "Eu nunca tive uma máquina de escrever". E foi o que eu fiz.



* É sempre motivo dúvida dizer o que importa ou não, portante, deve obrigatoriamente ser seguido de interregoção, como preceitua a Gramática Nacional de Complicações Filológicas e Filosóficas.
** Cor-de-burro-quando-foge, para vocês leitores ávidos por um pouco mais de realismo, é para mim aquela cor bege-abóbora, parecendo vôtimo de bebê ressecado. Ajudou?
*** De finalidade, viu!