Tuesday, September 27, 2005

Vilma

- Só uma água, por favor.

Poderia pedir um scotch, uma vodka, ou uma cerveja choca, o que combinaria melhor com a cortina de cigarros desse lugar, mas minha saúde é frágil. Sofro de uma doença que não diagnostiquei, que não tratei, que apenas resolvi ignorar como umâ rejeição da infância que continua a me atormentar nas noites suadas desse verão. A palidez da minha pele, os músculos frágeis, tão frágeis que quase se colam aos ossos. Sina de ser desamparada, desde nascida. Um corpo frágil para quem sempre quis tudo.

Aquele homem de ombros largos, queria sê-lo. Queria ser a caneca de meio litro de cerveja que ele ostenta como um bárbaro ancestral voltando de batalhas, o espólio de sua guerra, a cativa de seus braços. Não, não, não. Não quero novamente ser dominada. Esse meu instinto baixo de querer ser a suja rameira dos fortes deve ser reprimido pela minha vontade infinitamente contida de ser o forte. Quero ser o forte! Quero ser a valquíria liberta a matar a serpente do mundo, a Eva safada que dorme com a serpente, a c0ntadora de histórias que assassina o sultão, a princesa encantada que castra o príncipe surpreso. Quero ser a destruição!

Me chamo Vilma. Sim, um homem pode acabar comigo com um tapa. Posso ser facilmente esmagada pela força pura e bela dos fortes. Mas sobrevivo da minha vida interior, desse néctar que surge das minhas entranhas e se acaba nelas mesmas. Vivo em mim mesma, nem por isso vivo mais ou vivo menos. Vivo uma vida secreta que infindáveis livros de cabeceira não poderiam conter.

Não sou boa com quem convive comigo. Mas ninguém convive comigo. Apenas passam por mim, usam-me, tiram o que querem de mim, pagam-me para ser uma rameira, uma rameira! Mas eu sou viva! Vós não sabeis, amantes, mas tenho-vos todos tatuados em mim! Tenho-vos todos gravados em brasa, sei dos seus segredos, sei de suas angústias! Sou o pesadelo que os esgotos irão regurgitar de volta no dia em que suas brincadeiras pervertidas caírem da corda bamba de suas vidas!

- Aqui está sua água. Mais alguma coisa?
- Não. Obrigada, Garoto...

Wednesday, September 14, 2005

Dois rápidos comentários

1 - Time is NOT on my side

Desculpa a todos os amigos virtuais e reais (ahn?!) pela minha falta de consideração. Estou realmente ocupado com o trabalho, tenho entrado pouco na internet e, sinceramente, estou precisando me dedicar um pouquinho mais à vida real agora (ahn?! de novo!). Desculpem pelos poucos comentários (ou falta deles) nos blogs, pela falta de resposta no orkut, pelos e-mails não respondidos e pela ausência no MSN. Enfim, por tudo. A galera de Aracaju pode me encontrar no fone ou na farra, escolham. Semrumo, estou REALMENTE com saudades das nossas conversas. Não te esqueci não, viu!?

2 - Time is not on MY side

Desculpem pela porcaria de texto aí embaixo, foi o melhor que eu consegui fazer pra não deixar esse blog abandonado. Prometo que vou me dedicar um poquinho mais nos próximos.


Gotta go, see ya.

Corra, Danger, corra

Corre que o bicho pega. Corre, pequeno Danger, que o tempo está no seu encalço. Corre, recordações, memórias, lembranças, flashbacks, o passado quer te pegar. Corre, Danger, diz uma voz macia ao meu ouvido.

Ventos novos sopram com toda força pelas janelas abertas do carro. Uma rodovia deserta, sete lindas horas da manhã, o que diabos estou fazendo acordado, 120, 130, 140 quilômetros por hora, meu carro não foi feito pra isso. Estou à beira da praia, um ponto negro contornando o mar.

As imagens da noite surgem e se desfazem continuamente. Um vapor, um filme, um holograma no banco do passageiro, acelero o carro, tudo passa mais rápido. Uma vodka ocupa o lugar dela, eu nunca acabo sozinho. Corre, Danger, a lembrança está chegando com cheiros de desespero. Corre que o vento desfaz tudo, a velocidade empolga e mata o passado. Vai rápido que você salva sua vida.

Hahaha. Acaso, acaso, você sempre põe um maldito buraco no meu caminho. Não, meu caros amigos, essa não é uma estrada portuguesa, com certeza. Um roda voa fora do eixo, a suspensão deixa de existir, enfim eu perco o controle. Vamos girar, o mundo dá voltas, mas cada volta é um novo impacto, vidro, asfalto, aço. Um volta, duas, três, quando tudo vai parar de girar?

Não, eu não quero esse fim. Continue, bendito carro. Corra, Danger, corra. Corra até o fim do mundo engolir o seu desejo.

Time is NOT on my side.

Thursday, September 08, 2005

Carta

Home,

Estou escrevendo esta carta para dizer que nunca te encontrei. Eu nunca estive onde você estava, onde você esteve. Minha margem era sempre o fundo do rio. Você insistia em voar de asa delta.

Ontem sentei novamente na ponta daquele quebra-mar. Lembrei das tantas vezes em que tudo era saber você. Lembra do universo que era meu corpo? Está implodindo, toda aquela escuridão de beleza, de prazer, de intimidade, está indo embora. Meu corpo (e isso é algo que me deixa triste) está voltando a ter a cor de sempre. Mas essa, essa cor não fica para sempre e você também não vai ficar.

Estou escrevendo esta carta porque o tempo é inevitável. Esta carta foi feita para ser perdida dentro de um livro esquecido na estante, para ser roída pela traça mais gordinha que a sua biblioteca tiver, para ser encontrada por escanfandristas (Ah! Chico Buarque...) quando o dilúvio vier e o sertão virar mar. Esta é uma carta feita para ser desfeita.

Ontem foi ontem novamente e eu lembrei de você pela penúltima vez. A última ainda está por vir, e não é essa. Ontem foi ontem, mas a minha sede, que você imbecilmente ignora, é de apenas um hoje feliz. É de um carinho que retorne para mim como o protetor solar espalhado nas suas costas. Eu também quero me proteger do sol. Quero que me protejam.

Estou escrevendo esta carta porque não paguei o telefone, esqueci dos prazos esperando que as nuvens refizessem a imagem do seu rosto. Estou escrevendo esta carta porque você não atende o telefone. Estou escrevendo esta carta molhado da chuva que tomei no orelhão.

Ontem ficará para trás, mas enquanto isso eu deixo esse dia ecoar no meu albúm de fotos imaginário. Irá diminuir, diminuir, passará de poster de 3 folhas, frente e verso, para uma fotografia 3 x4 no canto inferior esquerdo da página ímpar. Vai ser preciso separar com cuidado as folhas para não arrancar seu rosto dali. Enquanto isso, ocupe o espaço que quiser.

Estou escrevendo esta carta porque você não quer. Estou escrevendo esta carta porque não sei onde você está.

Escrevi esta carta, mas não sei como entregar.

Carinho,

Later.