- Quando eu digo sim, me rendo. Meus joelhos podem estar machucados dos pedregulhos desse chão, mas minha servidão por isso só é maior. Você sabe que pode fazer o que quiser comigo, eu me regozijo.
- Bom.
Lado a lado, a luz nos emoldura. Duas pessoas olhando a lua nascer e mijar prata no mar. Bar abandonado, longe da cidade. Já disse que é beira do mar? Mar me bota sentimental feito o diabo. Um monte de água enchendo um abismo que vai daqui até todas as terras milhares de quilômetros além, mais fundo do que deve ser a alma, pelo menos a minha. Sou raso como um lago. Só finjo ser profundo e cultivo um poço ou dois pra afogar uns narcisos desavisados vez ou outra. Mas o mar não. É uma profundíssima fera acuada, com suas milumas bocas vindo sempre entregar na praia sua esfíngica mensagem:
- Decifra-me ou te devoro.
Uma terra sem mares é uma alma desnuda. Imagino as expedições desvirginando os abismos, cada pedaço mais recôndito alvo da sagaz curiosidade humana, o homem devorando-se em uma busca infinita de conhecimento. Haveria perigos? Haveria monstros nas cavernas escondidas, nos fossos profundos, que saíriam à noite, se esta houvesse, para devorar os imprudentes que se perdessem pelas trihas do extino engima marinho? O que habitaria o vazio deixado por esse magnífico mar, o que preencheria o espaço das planíceis secas dessa terra arrasada?
Divago. Divago e sinto próximos de mim esses segredos. Seria minha alma rasa já essa terra arrasada e ressequida, um deserto a ser habito por tribos semitas em busca de um deus das tempestades? Seria minha carente de um Moisés? Que recôndito canto da minha personalidade esconde o Monte Sinai a esperar os dez mandamentos que poderiam ditar uma vida? Sinto-me apenas um peregrino, temo o trovão, o sol e a escuridão. Esse exílio incerto que me impus é minha salvação, e as chuvas esparsas me garantem que é melhor a solidão inexpugável do que a certeza aprisionante. Viver a angústia seria o primeiro mandamento?
Faróis passam pela rua, a arma na mão esquerda do homem reluz. Uma mulher está ajoelhada ao seu lado.
- O que quer que eu faça, Danger?
- Morra.
Friday, October 07, 2005
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7 comments:
Welcome back! Isto se tornou um tanto ou quanto tântrico! Eheheh!
Realmente o mar consegue fazer-nos respirar de e para dentro de nós. Engraçado, hoje pensei: "Quando desistimos de algo, não lançamos à vida a nossa própria âncora?" Ficamos presos pela culpa e pela tal angústia.
Ficamos à espera de tudo, com medo de tudo. É o impasse de sermos humanos e imperfeitos. Quando olhamos o mar queremos pertencer ao grande mistério. Queremos ser como ele: vida e morte. Viste o "Mar Adentro"?
Beijocas com sabor a fado...e a mar!
É..viver a angústia é definitivamente o primeiro mandamento. Até que o vento traga ares de mudança até a praia...
belíssimo.
E boa saida cortar as divagações com uma espécie de "tapa"
vlad, meu camarada...
de un look depois num texto que eu fiz, qdo te sobrar tempo, se chama desvarios chukros.
Adorei seu texto!!!
Principalmente "Só finjo ser profundo e cultivo um poço ou dois pra afogar uns narcisos desavisados vez ou outra".
Mto legal!!!
Bjo
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