Compro de forma compulsiva - e compulsória - livros. Compro alguns pela capa, outros por indicação, alguns por curiosidade. Em casa, contemplando meus recém-adquiridos objetos de coleção, folheio-os, leio a orelha de cada um, o prefácio, algumas páginas e deixo-os dormir. São poucos que fazem o percurso direto para minha mesa de cabeceira e viram objetos de leitura. Posso dizer que cada um espera em média 4 meses. Alguns chegam à casa dos anos. Mas irei lê-los, sempre amanhã ou depois. Dentre esses livros em-breve-lidos está um que fala sobre o lugar comum e sua importância no comunicação. Livro muito interessante (li o primeiro capítulo), assinado pelo jornalista Cláudio Tognolli, alguém que merece a atenção de todos que gostam de bom jornalismo. O livro começa com uma pedrada, trazendo uma discussão baseada nas discussões sobre filosofia da linguagem do Wittgenstein. Pancada.
Sou um professor de redação que não obedece a suas próprias regras. Não vejo muito sequenciamento entre meus parágrafos, peco por minha falta de coerência. Não a rejeito, apenas sou incapaz de atingi-la. Não posso - sem intenção de fazer afirmativas cujo valor recaiam sobre toda minha vida, passada e futura - escrever com coerência. Não há um fim, não há um objetivo que me guie. Acumulo aleatoriamente informações que me chegam à mente. E o fardo da auto-análise pesa sobre mim, forçando-me a escrever este parágrafo e me explicar.
"Retrato de Um Artista Quando Jovem" foi o primeiro livro do James Joyce que eu li. Tinha lá meus 16 ou 17 anos. Entendi lhufas do livro e mesmo assim gostei. Entendi e não entendi. E não me importei com o que não entendi. Um dia, iria relê-lo e iria entender, tinha certeza. Ainda não o reli. E o mesmo aconteceu quando li o "Ulysses", um ano depois.
Luiz Melodia já lançou um CD chamado "Retrato do Artista Quando Coisa". Intertexto óbvio com Joyce. Há vários outros. Não sei se existe, mas ficaria feliz com um "Retrato do Artista Quando Outro".
Não sou artista (muito menos Artista), mas fico imaginando o meu "Quando Outro". Dizer que imagino é um exagero. Estou sempre a apenas esperar o meu "quando outro". Não por infelicidade, mas apenas porque quero sempre saber o que serei no futuro. Felizmente minha curiosidade não costume se estender para os reinos que se seguem à morte. Mas meu "quando outro", meu devir (pegando emprestado um termo filosófico que eu nem sei se está empregado corretamente) sempre me acompanha. Talvez por isso que eu tenha um ar meio perdido, meio desligado. Ando meio desligado.
Preciso deixar a pós-modernidade um pouco de lado e parar de fazer links com tudo que me aparece. Joyce, Luiz Melodia, Mutantes, Tognolli. A lista de hoje foi bem diversificada.
Esse é o grande perigo dos textos sem coerência, que não passam de um amontaodo de quinquilharias verbais. Não se sabe como terminar um texto desses.
5 comments:
A tentativa de seja lá o que for já é supérflua por si só. É exatamente por isso que o necessário é o supérfluo... nada é verdadeiramente necessário.
Contemplar é o verbo e verde é a cor...
http://www.fotolog.com/little_charmer/?pid=15624259
Welcome back my friend...
Interessantes reflexões Marcelo. Gosto de saber que não segue regras da redação, mas coerêncianão faltou aqui. Não ligam muito para isso, tanto no discurso quanto no sentimento! ! Joyce, ainda não o entendi tb!
retificando, Vladmir, não Marcelo
...Eu sinceramente entendi algumas coisas e outras não...
Esse eh o tipo de texto que gostaria de ler, com vc online ou do meu lado. Pra eu perguntar. Talvez as presenças de Mirela e de Diogo (grande goiogo), fossem bem vindas, depois duma primeira tentativa de entendimento com vc (o autor).
Mas, enfim, eu leio tão pouco, por isso sei pouco.
Ainda recorri ao meu amigo Thiago do http://www.canisfamiliares.blogger.com.br/ pra me ajudar a entender...Mas, ele jah havia lido e deixado seu depoimento aqui enquanto eu escrevia meu coment escutando a trilha sonora de Amelie Poulain.
Depois de discutir, com vcs, voltarei a ler e escreverei um novo coment, com embasamento.
Enquanto isso, só tenho a dizer que gostei da volta.
Não demore tanto...
xero
A sensação de finalmente entender um livro, passados alguns anos é uma espécie de "gozo" intelectual que nunca me importo de repetir. Existe tanta coisa na vida que só faz sentido depois. E depois? Ainda bem que voltaste! Bjinho.
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