Saturday, August 29, 2009

Em tom menor

Correr cansa. Sempre estar atrás, em busca de, a procura de, quase mendigando atenção. Cansa. Na verdade, retire-se o “quase”. Mendigo. Pedinte. Requerente nas filas intermináveis de uma burocracia amorosa. Devia haver leis contra isso.




No entanto, que ressonância se pode esperar na dispersão? Pode o assassino serial que metralha a multidão esperar que suas vítimas joguem-se em direção às balas que ele ainda não disparou? A metáfora é ruim, falha, pedestre e de mal gosto. Seria melhor criar uma imagem mais distante da realidade, talvez um náufrago cuja salvação dependa de quem ouça os seus gritos de socorro, mas tudo que fazem os marinheiros é admirá-lo de longe, indecisos sobre a quem se dirigem os gritos, e entretidos em resolver seus deveres individuais.


Enfim, sei que há solidão maior do que aquela em que tudo que se exige é alguém que olhe com mais cuidado para si. Não há drama nisso, não há mundo que vá deixar de existir por conta disso, muito menos não há suicídio no horizonte por conta de um amor inexistente. Não, não há essa angústia que só as paixões avassaladoras, mal-resolvidas ou não, podem causar. Não, nem mesmo a dor atinge notas mais altas. Resta apenas uma tristeza sussurrada entre dentes, que insiste em aparecer nas madrugadas solitárias, na cama vazia na madrugada, no peito sem ninguém a recostar-se nele, na ausência de cheiro de uma outrem quando se dorme. Resta apenas uma sensação esquisita, a coceira em um membro amputado, uma intimidade genérica extirpada que insiste em se fazer desejada.

1 comment:

Aninha said...

Devia sim haver leis contra isso. Mas não há. Resta conviver com essa angústia...