Wednesday, August 03, 2005

11o. Andar

Estou nu e olho para meu umbigo. Queria entrar ali de novo. Fazer o camelo passar pelo buraco da agulha. Fazer meu corpo entrar em si mesmo. Caber é um verbo difícil de ser conjugado.

Ah, paraíso, eu sabia que não te perderia. Vodcas vagabundas eu compro em qualquer esquina. Um gole quente para mudar essa noite. O último?

O vento assovia nas brechas da porta da varanda. O vendedor! O vendedor de ilusões está me chamando!

- Oi? Quais são os sabores de hoje?

O vento assovia nas brechas.

- Responde, responde, responde!

O vento assovia.

- Eu quero uma ilusão pra mim!

Ergo minha amada. Natasha, querida, vodca vagabunda, amante sempre fiel, ao alcance eterno do meu dinheiro, me beije, me beije agora.

Vai, vagabunda, me abandona. Me abandona como todas fazem. Me abandona e não volta mais. Pula dessa janela do décimo primeiro andar e acaba com a vida de mais um quando cair na calçada.

Não! Não faz isso...Eu...Eu não queria...ter feito isso...Desculpa. Desculpa, amor. Desculpa? Desculpa pra quê? Agora...agora você tá aí, quebrada. O teu sangue fino, tão fino, transparente, escorrendo pelo piso. Natasha! Natasha! Fala comigo! Você não pode morrer sem me amar uma última vez!

- É aqui que a vida chega ao fim. Décimo primeiro andar. Vida, aqui vou eu!

6 comments:

Anonymous said...

Queria eu poder entrar sem ser percebida nesse 11º andar...
Quem sabe, beberia um gole dessa vodcka vagabunda (pra vc)...
Quem sabe minha noite melhoraria ao te ver e poder ficar calada...soh pra ter uma compainha.
Eu nem sei se quero compainha agora, talvez seja melhor ficar sozinha e continuar tentando fazer com que o mundo caiba em mim.
Serah que eu preciso mesmo dele todo?
Mas, eu naum tenho nem um pedacinho...eu soh ouço alguéns gritando pelas suas amantes fiéis (serah?), lah de baixo...andando pela rua, sozinha...e dou uma olhada pra cima discretamente. Volto a andar.
Xero, lindo texto...continua?

Anonymous said...

Sempre tão confuso.O mundo tende mesmo ao caos.Bipes,sirenes,vozes radiofônicas,olhos capitulizados,ouvidos tapados e bocas,muitas bocas abertas.
Como saber se o caminho que se traça dará em precipício?Como saber a hora de mudar de caminho?Como caminhar?
Tudo tão desnecessário.Sim,porque até a dor tem seus limites pedagógicos...Então corro,corro entre vasos,corro dos vasos.Não,não são de flores,são de pressão.Objetivo a sala,o computador,o blog,a ilusão e,porque não,a desilusão.Alcanço.
Parto.Pensamentos cheios de exclamações.
Camila

Anonymous said...

Foram Cardos, Foram Prosas

Há luz sem lume aceso
Mas sem amar o calor
À flor de um fogo preso
À luz do meu claro amor

Há madressilvas aos pés
E águas lavam o rosto
A morte é uma maré
Olho o teu amado corpo


Será sempre a subir
Ao cimo de ti
Só para te sentir
Será no alto de mim
Que um corpo só
Exalta o seu fim


Não foram poemas nem rosas
Que colheste no meu colo
Foram cardos foram prosas
Arrancados ao meu solo

Oi que ainda me queres
No amor que ainda fazemos
Dá-me um sinal se puderes
Sejamos amantes supremos


Será sempre a subir
Ao cimo de ti
Só para te sentir
Será no alto de mim
Que um corpo só
Exalta o seu fim. . .


Autores: Miguel Esteves Cardoso/Ricardo Camacho
Voz: Manuela Moura Guedes

Vladimir, penso que esta música consegue chegar ao teu 11º andar...
Chegar ao cimo de nós mesmos não será o mesmo que recomeçar?
Gostei muito do texto.Congratulations!

Anonymous said...
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Anonymous said...

Que tal lamber o sangue fino da Natasha que escorre no piso, junto com os cacos de vidro? Outch! It hurts, but it feels good ;)

Beijo! :*

Anonymous said...

Lindo!
Todo mundo é poeta?