Friday, July 29, 2005

Já Crepúsculo

Isso nunca aconteceu.

O banco era mais um bloco de cimento pintado de branco. Servia. Sentou, o rio corria negro. Não havia porque ser outra cor. Reflexos de prata e ouro, luzes, há riquezas na escuridão.

Esperava? Não se sabe. Sentado, a cabeça voltava-se para cima de vez em quando, olhava o espelho do rio no céu. Onde estaria sua imagem, em que estrela se veria? A penumbra tem o tom do cansaço. Queria respirar um ar mais puro.

Acendeu o cigarro. O amargo da fumaça acaricia a garganta. Ele sempre estava esperando, só esperando. Dar um passo sempre foi cair no abismo.

Camuflada nos meus pensamentos, envolta nos disfarces da noite, não percebi. Sentou-se ao meu lado. Era ela que eu esperava?

Era ela a quem eu queria falar. Virei, afinal, meu olhar. Ouro e prata estavam na pele dela. O rio... Eu sempre estou enxergando o mesmo. Não falei. Não quis atrapalhar um milagre: ela tomou a iniciativa.

- Desculpe.
- Eu te desculpo. Não desculpo a vida.

Desencontros. Você corre, deslumbrado, deslumbrante, rompendo-se de alegria para abraçar a tão esperada, o tão esperado (re)encontro. Mas nunca é a pessoa certa que você abraça. É um estranho que te olha com a cara fechada. Só sobram os pedaços de você que caíram no caminho.

- Odeio desencontros.

Danger abriu a mão, uma borboleta amarela voou em direção a outra margem.

- ser o que seria:
já crepúsculo mal
começa o dia?

Mas isso nunca aconteceu.

3 comments:

Anonymous said...

Também odeio me desencontrar das pessoas...

Minha dificuldade é, quando finalmente as encontro, saber qual delas pode ser "the right one". I never know... NEVER.

Bejo! :*

Anonymous said...

relapsa que sou,prometi(a mim?) que voltava, mas farrapei um "volto amanhã".
Eu, residência de uma curiosidade(igualmente relapsa, a curiosidade) reticente , resolvi justificar-me aos personagens que prometi acompanhar, e vez por outra torcer pra que Danger não tropece nas mesmas pedras, e que o sofá, ah! que o sofá de dormir seja vermelho!

mas confesso ,o que me fez saltar dentes foi o café!Na verdade porque pela segunda vez (consecutiva ) me identifico personagem. Tb vivencio um affair com o café! Eu o procuro, e ele solícito , cessa meus anseios e ainda aciona um ou outro pensamento que larguei incompleto. E não, eu não gostava de café. Tenho minhas próprias teorias pra esse affair, mas meus blogs não ousam revelar, rss.

Bem, eu podia mencionar o texto novo, mas nem irei por hora..."volto amanhã"
*ah, nem sei o que roubaste teu bom humor ontem, mas o peso de vc, ficou em mim. espero que esteja bem.
um abraço

Anonymous said...

E para onde vai tudo aquilo que se disse, tudo aquilo que se sente? A partir de que momento a pessoa passa de certa a estranha? O que realmente muda: a outra pessoa ou a nossa maneira de gostar dela? Os pedaços que nunca chegam a ser colados servem para recordar algo que já foi TUDO. O amarelo que desbotou e não deixou de ser amarelo...só já não é aquele amarelo.Varrem-se os pedaços para debaixo de um tapete.Cada vez que pisam o tapete ouvimos os cacos.