Sunday, July 24, 2005

Not the right one

- I'm not the right one.

Sentados frente a frente, Later e Home.

Vodca, gelo e limão num copo. Cigarro incessante na outra. Será que ele nunca se acaba? Cabelos vermelhos cacheados, descendo até a altura dos seios, inclinada para frente, braço esquerdo dobrado sobre as pernas, saia negra, jaqueta jeans aberta, top preto por baixo. Da última vez que tinha visto, por foto, ele jurava que a esfinge tinha um rosto diferente. Baixava os olhos, não era ele o Édipo que iria resolver esse enigma. Não tinha descoberto nem o que era ficar de pé.

Camisa branca abotoada, até em cima, enfiada por dentro de um jeans, cinto de couro preto com fivela prateada, discreta, relógio de pulso, braços cruzados, cabelos negros lisos, pouco crescidos, quase espetados, olheiras. Fixava a água que sua coca-cola recolhida pelo garçom tinha deixado na mesa.

- Eu pensei...eu não sei...achei que nunca mais iria ver você de novo. Aquele dia foi tão rápido, mas tão inten...Eu não sei bem o que aconteceu, eu pensei em você todo esse tempo, aquilo não me saiu da cabeça. E você não me deixou nem seu telefone. Não respondeu nada. Eu...eu...como você me encontrou? Eu...às vezes fico achando que você nem é real...
- I have my secrets.
- Por que você sempre fala em inglês? Você...essa é só a terceira vez que ouço sua voz...Você não é daqui? É americana, inglesa?
- Wrong question.

Esse o movimento que sempre me escapava. A reprodução infinita dos cigarros. Nunca deixa de haver um nas mãos dela. Nunca deixa de haver um isqueiro para acendê-los. Esse o movimento que me escapa.

- Eu não entendo você...Seu nome, seu nome é mesmo Home? É um nome estranho...eu sei que o meu também é. Eu só estou tentando enteder.
- ...
- Como você me achou?
- You have always been where you were. It was easy.
- Por que você continua a fazer isso comigo? Da outra vez, você simplesmente não falava nada. Agora, fala, mas não diz nada. O que é isso, o que é você? O que você espera que eu faça, Home?

Um trago no cigarro e, surpresa, apaga-o antes de terminar, um cigarro que mal tinha fumado, em que mal tinha tocado a boca, a boca de Home, convidativa como um sinal vermelho pede para ser ultrapassado.

- Devora-me ou te decifro.

4 comments:

Anonymous said...

A Home assemelha-se cada vez mais ao estilo de personagem imaginada por Paul Auster...Se assim for, o mistério irá permanecer por mais tempo, quem sabe até para sempre...
Tell me " Are you trying to come back ( to ) HOME?". Que medo é esse de ser decifrado? Ou melhor...mastigado?

Anonymous said...

Algumas vezes é melhor não entender as pessoas, não tentar decifrá-las, simplesmente aproveitá-las........
A decepção pode seguir a verdade!!!

Anonymous said...

Não consigo mais ter vontade de devorar coisas que não posso decifrar... tenho medo da indigestão.
Apenas uma parte de mim, sobre a qual não tenho domínio, inclina-se a esse tipo de impulso...
Shhhh! Fale baixo, senão você pode acordá-la. =)

Bejo! :*

Anonymous said...

q texto do caraio vlad. nas horas da linguagem inglesa, senti q o q o personagem tentava expressar era algo distante da compreenção dela. n sei se essa pode ser tua ideia.mas...bjos cabra