Wednesday, July 06, 2005

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- Read this, Later.

Aquela estranha figura que o tinha olhado fixo quando ele acobertou-se no bar, que o tinha chamado a uma mesa, que tinha resistido petreamente, cigarro após cigarro, a suas perguntas sobre os porquês, comos e o quês de tudo aquilo, que o tinha arrancado de sua via comum com um olhar esfíngico, tirando poeira de séculos sobre o verbo seduzir, que tinha em relâmpagos pago a conta e se levantado, num flash, sussurou a frase em seu ouvido e sepultou-lhe na mão um pedaço de papel dobrado.

O que restava sentado sozinho àquela mesa de bar? O mesmo homem que cinco minutos atrás procurara um teto para fugir da chuva? O mesmo homem recém-saído do trabalho a caminho da solidão de um apartamento? O mesmo homem de vida regrada e monótona, sem glória alguma para orgulhar-se, sem graça alguma para regozijar-se? O mesmo homem que tanto deixara pra trás em nome de algo que até o nome lhe escapava agora? O que havia àquela mesa, sentado naquela cadeira, era um resto, nem corpo, havia ali só o oco silêncio.

Mas, como o nascimento da primeira estrela, surgia naquele cemitério de sons um eco, o Primeiro Eco. Começou na testa, entre as sobrancelhas, que se ergueram, altura do terceiro olho, desceu pescoço, dobrou no ombro esquerdo, cambalhotou pelo braço, bateu na mão e abriu um dedo. Começou a desdobrar o papel. Numa foto preto-e-branco daquele enigma havia escrito em letras vermelhas:

- Just call me Home.

2 comments:

Anonymous said...

E aí? Ligou?

Anonymous said...

A vida pode ser um papel dobrado que ninguém tem coragem de ler; um papel amarrotado de um rebuçado que outrora foi doce e agora é amargo...O eco da nossa vida repete o barulho de cada papel que desdobramos,amarrotamos,revemos,queimamos...ou simplesmente guardamos.
Never read this.