Wednesday, June 29, 2005

Quanto de cada um

Quanto de cada um se perde, quanto de cada se ganha?
Quando eu te olho e você não, que parte de mim foge e que parte de mim fica? O que meu você ganha, o que meu eu perco?
Quando eu falo, que palavra de mim se perde e que palavra em mim resiste? O que você entende, o que eu intenciono?
Quando meu gesto, folha perdida no vento, alcança a praia da ação, que parte do meu corpo se perde no caminho? Que parte minha se sublima, que parte de mim vira vento?
As almas, afinal, transubstanciam-se? Há, afinal, a metempsicose? Joyce, Bloom, Dedalus, respondam-me tríade de esfinges.

The non-sense of life goes on, doesn't it?

"Pois que no sentir nos volatizamos; ai de nós
que nos exalamos até a exaustão; e de arder em arder
desprendemos aroma cada vez mais fraco. Bem poderia alguém dizer:
Sim, entras no meu sangue, este aposento, a primavera
enchem-se de ti...Mas de que adianta se não nos retém,
se ali sumimos e à sua volta. E aqueles que são belos,
quem os reteria? Ininterruptamente a aparência
surge-lhes na face e vai-se. Como o orvalho da erva matinal,
o que é nosso se desprende de nós, feito o calor de um prato
de comida quente. Oh sorriso, para onde? Oh olhar erguido:
cálida onda nova e efêmera do coração -;
ai de mim: somo isso, pois. O espaço sideral
em que nos dissolvemos, guarda o nosso gosto? Recolhem os Anjos
na verdade apenas o que deles dimanou,
ou às vezes, como que por descuido, um pouco
da nossa essência junto? Estamos acaso misturados de leve
às suas feições como o vago nos rostos
das mulheres prenhes? Eles não o notam no turbilhonar
do regresso a si próprios. (Como iriam notar?)"

Extraído da "Segunda Elegia" de Rainer Maria Rilke, Elegias Duinenses

Monday, June 27, 2005

Dia do sol, Dia da lua

Se Sunday é o dia do sol e Monday o dia da lua, como é que minhas segundas sempre me iluminam e meus domingos sempre me escurecem? Parece que depois que a noite me fecha aos domingos, uma alvorada de segunda-feira me abre, ergue e renova. Domingo: inverno. Segunda: Verão.
Ora, bolas, mas não deveria ser a segunda-feira o dia das minhas ressacas, quer sejam físicas, morais ou emocionais? Ora, bolas (adorei essa expressão!), mas é exatamente o contrário disso que acontece. Parece que, assim que começa a madrugada de segunda, minhas forças, físicas, morais e emocioanais, vão se recuperando e ao acordar na manhã eu já sou novamente um homem inteiro (quase...).
Talvez minha segunda-feira não seja um verão, mas sim uma primavera, esperando que o outono da semana venha cair suas folhas.
Talvez não sejam todas as segundas-feiras, talvez seja só essa.
Talvez eu não seja feliz.
Talvez.

Sunday, June 26, 2005

Gloomy Sundays e Hiatos Criativos

Gloomy Sunday

Sunday is gloomy, the hours are slumberless
Dearest of shadows i live with are numberless
little white flowers will never awaken you
not where the dark coach of sorrow has taken you
angels have no thought of ever returning you
would they be angry if I thought of joining you?

Gloomy Sunday

Gloomy sunday, with shadows I spend it all
My heart and I have decided to end it all
Soon there'll be prayers and candels will be lit, I know
Let them not weap, let them know,that I'm glad to go

Death is a dream, for in death im caressing you
With the last breath of my soul, i'll be blessing you

Gloomy Sunday

Dreaming
I was only dreaming
I awake and I find you asleep and deep in my arms
Dear...Darling, I hope that my dream hasnt haunted you
My heart is telling you how much I wanted you
Gloomy Sunday
its absolutely gloomy sunday
Gloomy Sunday
Sunday


Também conhecida como "suicide song". Possui várias gravações recentes (Billie Holliday, Bjork, se eu não me engano Sinead O'Connor), mas a versão original é húngara. Já foi proibida em vários países pelo número de suicídios que tinham relação com ela. Ótima para embalar minhas depressões de domingo.
Ah, podem ficar calmos, eu não sou suicida.

Observação: os que tem um pouco mais de memória devem lembrar-se da série "Fragmentos de um discurso amoroso". Não, eu não a abandoneio. Só não consegui produzir nada digno de ser publicado aqui ainda...Hiatos criativos...Já repararam como eu estou constantemente postando letras de música? É porque a criatividade se esgotou (preciso renovar meu contrato com o diabo...)

Thursday, June 23, 2005

Edson

Prometo e cumpro.

Lá estou eu dançando e me agarrando loucamente com Manuela, quando, de repente, não mais que de repente, vejo uma figura alta, magra, barba mal feita, camisa de botão preta, parada a me olhar: Edson.
Edson é O Homem, O Cara. Vou contar a história de como o conheci e de como me tornei amigo dele.
Eu o conheci através de Andrea, minha ex-namorada, que tinha um grande amigo chamado Anderson. Edson namorava irmã de Anderson, Úrsula, então nós nos víamos de vez em quando. Esse foi meu primeiro contato com ele.
Depois disso, encontrei Edson num contexto completamente diferente. As eleições estudantis para o DCE da Universidade Tiradentes. Lá estava eu na minha época de político dando uma força (muito pequena, é verdade) pro pessoal, quando o vejo como um dos mais engajados participantes da chapa. Já comecei daí a ter um pouco mais de contato com ele.
Tudo seguia na vida como se fôssemos ser apenas mais dois conhecidos que se falam de vez em quando, se cumprimentam na rua, levantam as sobrancelhas pra dizer "oi" e vão embora. Mas a vida tem caminhos engraçados. Estou certo dia no tradicional bar fudido de Aracaju, ponto de encontro da juventude descolada e angustiada dessa pequena cidade, o Big Brother, e, depois de várias cervejas, começo a ter uma conversa super alto-astral com essa figura que é Edson. Conversamos sobre tudo, mas tínhamos em comum uma decepção amorosa. Estávamos os dois em fim de relacionamentos, e o espírito jocoso-melancólico dos dois logo se identificou. Lembro que nesse mesmo dia fomos no carro dele para o mercado tomar café-da-manhã (sim, sim, nós amanhecemos o dia no Big Brother) no mercado central, ainda trocando amarguras sobre nossas mulheres. Fui dormir nesse dia com a sensação de ter ganhado um grande amigo.
E isso se confirmou nos dois meses seguintes. A noite no Oi Beach Bar, o ano novo na Praia do Francês, o boliche com os primos dele (e a maravilhosa e esnobe Natasha, também prima dele), e, principalmente, porque o cara simplesmente foi a conexão para meus dois outros grandes amigos da atualidade: Mingau e Aragão. Esse cara foi crucial na reviravolta que minha vida deu.
Mas o filho-da-puta tinha que ir embora pra Sâo Paulo. Do nada, sem se despedir, no típico estilo Edson de ser, sumindo sem dar satisfação a ninguém. E, eu, com cara de besta, fiquei a jogar pragas na distância, que me tirava de perto mais uma grande amizade.
Mas, então, alguns meses depois, ele me aparece em pleno Forró Caju, recém-chegado de São Paulo. E eu percebo como é bom sentir carinho, intimidade e admiração por um outro cara. É bom saber que se tem um amigo.
Edson, Mingau, Aragão, eu AMO todos vocês.

Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me

E eis, que pela manhã, The Smiths me revelam o que eu já sabia:

Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me

Last night I dreamt
That somebody loved me
No hope, no harm
Just another false alarm

Last night I felt
Real arms around me
No hope, no harm
Just another false alarm

So, tell me how long
Before the last one ?
And tell me how long
Before the right one ?

The story is old - I know
But it goes on
The story is old - I know
But it goes on

Oh, goes on
And on
Oh, goes on
And on

Tuesday, June 21, 2005

Terra firme

Estou decidido. Isso é uma raridade na minha vida. Eu sou o tipo de homem que demora, demora, demora, mas um dia chega a uma conclusão. Aí, demora, demora, demora, e age.
- E aí, presta estar decidido?
Presta nada. É uma merda. Em especial ESSA decisão. Eu preferiria mil vezes continuar nesse clima "deixa a vida me levar". Mas não dá não....
Sempre que a gente fala em deixar a vida nos levar, lá vem aquela metáfora mais batida do que o carro do Airton Senna: a vida é como um rio, blablabla...Porra, se essa vida for um rio, eu acho que entrei de canoinha numa daquelas corredeiras loucas, cheias de pedras, cachoeiras, redemoinhos, monstro do lago Ness.
Chega. A canoinha aqui já levou porrada demais dessa vida que não sabe pra onde nos leva. Eu quero é a terra firme.

Monday, June 20, 2005

Bom dia

De que são feitos os bons dias? Um acordar preguiçoso, uma luz gentil, um sorriso sincero, um suco de laranja claro como o sol, família feliz ao seu redor, girando e girando num carrossel que só lhe quer feliz. A felicidade é heliocêntrica, é um querer que tudo gire ao seu redor. Minha cachorra me pede uma carona, me espera no banco do carro, "vamos sair juntos?". Amigos me abraçam, me cumprimentem, me felicitam . Como esse verbo anda apagado, um verbo tão bonito e caridoso, esse "felicitar"...
Quando as luzes se apagam, a felicidade mostra que sua face lunar. As bebidas começam a descer pelas gargantas, a música enche o ambiente, um grande amigo me faz companhia:
- Miguel?
- Não, mãe, Mingau.
Gula: comamos e bebamos. Vocês, iniciados nessas artes, fumem. Vamos, vamos todos, a festa não acabou, só mudou de lugar, vamos, vamos todos.
Gente, gente, gente. Geraldo Azevedo acaba celebrando nossa chegada. Vamos, vamos todos beber, dançar, é a quadrilha "Pau no cú" no arraial. Minha voz rouca de batman não vai me abalar ("Do I look like a cop?"). Vamos, Manuela, me beija agora.
Não, não, isso não vai me abalar. Vamos, vamos, vamos dançar, Alice.
São três horas da manhã, promessas são promessas, vamos, vamos, Raphael, Yo, Mingau, Alice.
Vamos, vou dormir, já são quatro da manhã. Obrigado, dia, você foi bom comigo.

Saturday, June 18, 2005

Leaving on a jet plane

Esqueçam a circunstância e viajem. É isso. Bem que podia ser isso.

Leaving on a jet plane
(John Denver )
*Interpretada por Bjork e PJ Harvey fica bem melhor

I'm ... I'm ...

All my bags are packed, I'm ready to go
I'm standin' here outside your door
I hate to wake you up to say goodbye

But the dawn is breakin', it's early morn
The taxi's waitin', he's blowin' his horn
Already I'm so lonesome I could die

So kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go

'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go

I'm ...

There's so many times I've let you down
So many times I've played around
I'll tell you now, they don't mean a thing

Every place I go, I think of you
Every song I sing, I sing for you
When I come back I'll wear your wedding ring

So kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go

'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go

Now the time has come to leave you
One more time, oh, let me kiss you
And close your eyes and I'll be on my way

Dream about the days to come
When I won't have to leave alone
About the times that I won't have to say ...

Oh, kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go

'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go

And I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go

But I'm leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
Leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
Leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
....

É isso.

Thursday, June 16, 2005

Só o erro tem vez

Eu queria ser um copista medieval. Poder errar sem ver meu erro, e, errando, criar o novo. Do meu coxo latim, nascer uma língua nova, fazer brotar uma flor do Lácio. Queria que meu erro fosse um fruto que gerasse vida, e não a marca da morte. Por que, afinal, estar sempre certo? Por que escrever certo, mesmo por de linhas tortas? Por que não escrever torto por linhas tortas, errar até o fim. E do fim que nasça um novo mundo, falso, errado, manco e vagabundo, um mundo onde o erro tenha sempre a sua vez.


Erra uma vez
(paulo leminski)

nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez

Ano novo, vida nova?

É, eu poderia considerar meus aniversários (hoje para os infames desavisados) , como marcos de vida nova. Eu poderia começar a fazer isso. Até hoje, no mínimo, uma data festiva. De hoje em diante, quem sabe, apocalipses. Morreres do velho para o nascimento do novo. Preciso matar algo para alimentar minha sede de revolução. Vítimas, mostrem o peito.


Brinde
(José Paulo Paes)

Ano novo: vida
nova
dívidas novas
dúvidas novas

ab ovo outra
vez: do revés
ao talvez (ou
tanto faz como fez)

hora zero: soma
do velho?
idade do novo?
o nada: um ovo

salve(-se) o ano novo!

Wednesday, June 08, 2005

Mensagens

Eu sou um cara muito carente. De atenção, de carinho, de juízo. Um dos sintomas principais da minha carência é minha obsessão pelo meu celuar. Algumas pessoas apenas os tem por perto, outras nem ligam para ele, outros ainda não conseguem viver sem ele. Eu sou um caso à parte: eu tenho obsessão pelo meu celular. Não posso ficar longe dele. Sempre fico pensando que alguém vai ligar, que alguém vai mandar mensagem. Na verdade, eu sempre penso que quem faz tudo isso é aquele alguém especial. Mas ligaçõe inesperadas dos amigos, só pra conversar ou chamar pra sair já são o suficiente. Me sinto lembrado. Tenho certeza que ainda estou aqui.
O maior símbolo disso pra mim são as mensagens. Eu vivo esperando uma mensagem. Sabe aquela mensagem que você termina de ler e passa o dia bem, , elétrico, tranquilo, simplesmente FELIZ. Pois é, eu vivo esperando por essa mensagem. Quer me deixar alegre? Me manda uma mensagem. Quer me encantar? Me manda uma mensagem interessante. Quer me ganhar? Me surpreende.


Esclarecimento: para todos aqueles que estão se perguntado "Mas você não devia estar corrigindo redação?"....é, eu também estou me perguntando isso.

Poemas para Brincar

Poemas para brincar é o nome de um livro do José Paulo Paes que me marcou quando criança. E olha que naquela época eu nem me dava conta de quem era José Paulo Paes. As ilustrações, feitas por Luiz Maia, também são incríveis. Um ótimo livro para apresentar a poesia ao público infantil. Pra vocês apreciarem, vai aí minha parte predileta:

Alfabeto

Aulas: período de interrupção das férias.
Berro: o som produzido pelo martelo quando bate no dedo da gente.
Caveira: a cara da gente quando a gente não for mais gente.
Dedo: parte do corpo que não deve ter muita intimidade com o nariz.
Excelente: lente muito boa.
Forro: o lado de fora do lado de dentro.
Girafa: bicho que, quando tem dor de gargante, é um deus-nos-acuda.
Hoje: o ontem de amanhã ou o amanhã de ontem.
Isca: cavalo de Tróia para peixe.
Janela: porta de ladrão.
Luz: coisa que se apaga, mas não com borracha.
Minhoca: cobra no jardim-de-infância.
Nuvem: algodão que chove.
Ovo: filho da galinha que foi mãe dela.
Pulo: esporte inventado pelos buracos.
Queixo: parte do corpo que depois de um soco vira queixa.
Rei: cara que ganhou coroa.
Sopapo: o que acontece quando só papo não adianta.
Tombo: o que acontece entre o escorregão e o palavrão.
Urgente: gente com pressa.
Vagalume: besouro guarda-noturno.
Xará: o outro que sou eu.
Zebra: bicho que tomou sol atrás das grades.


Esclarecimento: A série "Fragmentos de um discurso amoroso" volta depois que eu terminar de corrigir duzentas redações em dois dias. Huhu!

Monday, June 06, 2005

Fragmentos de um discurso amoroso - Abismo e Abraço

Inicio hoje a série "Fragmentos de um discurso amoroso", baseado no livro homônimo de Roland Barthes cuja leitura iniciei também hoje. Desde que o tinha visto escondido no caos do livreiro da universidade, que li seu índice e vi, sem o saber nomear assim, uma "enciclopédia da cultura afetiva" (não são essas as pretensões do autor), surgiu minha compulsão. Mais um elemento da minha vida a sussurar inaudível: "devora-me ou te decifro". Pois, então, depois de um dia de leitura compulsiva e aleatória de seus vários capítulos, fruindo uma leitura meio poética meio acadêmica, decidi-me que iria tentar converter minhas experiências de leitura desse livro, trituradas na máquina-de-moer das minhas vivências, em poemas. É o vício da metalinguagem me atacando novamente. Tomara que não seja mais uma das empreitadas que eu deixo me esperando pelo resto da vida, relegadas a um semi-esquecimento que chega a dar pena.
Abaixo vão o fruto dos dois primeiros capítulos. Desde já digo que os poemas poderão conter citações textuais do livro, como o são os versos "morte livre do morrer", de Abismo, e "criança de pau duro", de Abraço.

Abismo

Fixa-me o abismo,
morte livre do morrer.
De mágoa, ou de fusão,
torno-me difuso,
plúmbea manhã.
Caio do Imaginário
na tumba comum das paixões
e vou-me ao além
que não é o outro.
Penso e desejo uma
morte livre do morrer.


Abraço

Abraçado a minha amada
(re)encontro os prazeres do ventre:
acolhe-me como mãe e minha mulher.
Eu, Eros,
criança de pau duro,
entrevejo a plenitude
e quero mais.

Sunday, June 05, 2005

Devora-me ou te decifro

Todo, todo cambia.

Minha sina foi ser copista.

Ou não.

Sinto falta de carinho. Porra, sinto falta de carinho seu.

"- Que trazes em teus olhos,
negro e solene?

- Meu pensamento triste
que sempre fere."

Devora-me ou te decifro.

Friday, June 03, 2005

Karma poético

Paulo Leminski deve ser meu karma poético. Tantos poemas conseguem me tocar, me entender, me consolar, me doer. Os poemas de leminski são minhas amantes à noite, me mantendo acordado ou sonolento, abatido ou revigorado. Tento penetrar pela carne de suas palavras, às vezes falho, às vezes me repelem. Mas, ah!, a explosão de prazer, ínfimos contatos da alma, quando dentro deles consigo estar.


Ais ou menos
(oração pela descrença)

Senhor,
peço poderes sobre o sono
esse sol em que me ponho
a sofrer meus ais ou menos,
sombra quem sabe, dentro de um sonho.
Quero forças para o salto
do abismo onde me encontro
ao hiato onde me falto.
Por dentro de mim, a pedra,
e, aos pés da pedra,
essa sombra, pedra que se esfalfa.
Pedra, letra, estrela à solta
sim, quero viver sem fé,
levar a vida que falta
sem nunca saber quem é.

Thursday, June 02, 2005

Essa língua portuguesa

Frase da semana:

"Hull emprega o constructo hipotético-dedutivo da resposta fracionada antecipatória ao excitante-finalidade como mediador, atribuindo às respostas fracionadas a capacidade de produzir estímulos, internamente. Os erros de datilografia, para Hull, são, usualmente, do tipo antecipatório."

E eu me pergunto: por que não?


Palavra da semana:

Mandriice: preguiça à moda antiga. Imaginem como era ficar sem nada pra fazer lá nos idos de 1800, sem essa correria de hoje. Tempo para cochilar depois do almoço, ver a grama crescer, namorar numa rede assistindo ao pôr-do-sol. Ah, a mandriice devia ser uma delícia. Hoje, nem pra preguiça se tem tempo. Portanto, da próxima vez que você estiver curtindo seu momento mais do que necessário de ócio e alguém lhe chamar de preguiçoso ou vagabundo, entorte a cabeça do salafrário respondendo:

- Preguiçoso, não, mandrião!