Wednesday, June 29, 2005

Quanto de cada um

Quanto de cada um se perde, quanto de cada se ganha?
Quando eu te olho e você não, que parte de mim foge e que parte de mim fica? O que meu você ganha, o que meu eu perco?
Quando eu falo, que palavra de mim se perde e que palavra em mim resiste? O que você entende, o que eu intenciono?
Quando meu gesto, folha perdida no vento, alcança a praia da ação, que parte do meu corpo se perde no caminho? Que parte minha se sublima, que parte de mim vira vento?
As almas, afinal, transubstanciam-se? Há, afinal, a metempsicose? Joyce, Bloom, Dedalus, respondam-me tríade de esfinges.

The non-sense of life goes on, doesn't it?

"Pois que no sentir nos volatizamos; ai de nós
que nos exalamos até a exaustão; e de arder em arder
desprendemos aroma cada vez mais fraco. Bem poderia alguém dizer:
Sim, entras no meu sangue, este aposento, a primavera
enchem-se de ti...Mas de que adianta se não nos retém,
se ali sumimos e à sua volta. E aqueles que são belos,
quem os reteria? Ininterruptamente a aparência
surge-lhes na face e vai-se. Como o orvalho da erva matinal,
o que é nosso se desprende de nós, feito o calor de um prato
de comida quente. Oh sorriso, para onde? Oh olhar erguido:
cálida onda nova e efêmera do coração -;
ai de mim: somo isso, pois. O espaço sideral
em que nos dissolvemos, guarda o nosso gosto? Recolhem os Anjos
na verdade apenas o que deles dimanou,
ou às vezes, como que por descuido, um pouco
da nossa essência junto? Estamos acaso misturados de leve
às suas feições como o vago nos rostos
das mulheres prenhes? Eles não o notam no turbilhonar
do regresso a si próprios. (Como iriam notar?)"

Extraído da "Segunda Elegia" de Rainer Maria Rilke, Elegias Duinenses

3 comments:

Anonymous said...

Vou contar uma coisa estranha que me aconteceu uma vez.Eu e outra pessoa, meio adormecidos,tivemos uma espécie de sonho( os dois e naquele momento ) em que as nossas "almas" saiam de nós e se juntavam. Quando acordámos daquele sono e partilhamos o sucedido ficámos arrepiados...Once in a lifetime. E eu sou tão céptica como a Scully dos X-files.

Anonymous said...

E põe non sense nisso..
Mas é bom ser assim de vez em quando.. pra balancear as idéias!

Anonymous said...

ler todo o blog, muito bom