Friday, July 01, 2005

Poema de Amor

Ao conversar com uma amiga com que há muito tempo não conversava, entendida ela também nas artes da palavra (a maga Cibele), lembrei-me de um poeta americano que também há alguns poucos anos atrás era fixação minha: e.e.cummings (o nome dele se escreve assim em minúscula, mesmo, preferências dele). E lembrei-me do poema que mo apresentou (rará! Usei uma construção correta e arcaica do português! Juntei os pronomes me e o e formei mo!). Esse é um dos poemas de amor mais belos que já li, tanto a tradução de Augusto de Campos como o original em inglês. Zeca Baleiro o gravou e deu o nome de "Nalgum lugar", palavras iniciais da tradução. Eu já o recitei ou enviei para duas pessoas, mas, para não desgastar nem parecer repetitivo, eu deixei de usá-lo. Afinal, iria parecer que eu só o uso como uma cantada barata. E não é essa minha relação com a poesia. Enfim, aqui vai o poema. Respeitando meus amigos que não sabem inglês, coloco a bela tradução de Augusto de Campos.


nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

Lindo, não?

5 comments:

Anonymous said...

Lindo, lindo , lindo Vlad querido!
Amo vir aqui e aprender sempre coisas lindas com vc!
Um dia quero que meus seguidores amigos fiéis possam conhecer essa pérola. Poderei ter a honra de colocá-la no meu cantinho?!
Um Xêru enoooorme!
ps: nunca mais apareceu la neh?hunpf...XP

Anonymous said...

Não é arcaica...é gramaticalmente correcta.Muito bem usada.
O poema é sem dúvida "brilliant". O olhar diz o que a garganta não consegue. Os olhos desvendam tudo o que queremos ocultar.A nossa alma emerge à superfície do olhar.

Anonymous said...
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Anonymous said...

Faz parte daquelas coisas que eu te disse que meu exílio desenvolveu a falta de habilidade com comentários. Mas fica registrada a intenção... Muito boas todas as sugestões de ontem! Tô garimpando tudo. Beijinho.

Anonymous said...

Ahh poesia.. não há forma melhor de desabafar.. eu que o diga com minhas milhares e milhares e milhares..
Beijos seu REBELDE!!!