Hermes baby. Esse é um nome engraçado que descobri recentemente. Vocês sabem o que é uma Hermes baby? Sim, sim, "uma", Hermes baby é "uma" coisa, e não "um" coiso. Bem, não importa se vocês sabem ou não o que é uma Hermes baby, mas eu não sabia o que era uma Hermes baby, sei agora e é isso o que importa. Ponto. Interrogação.*
Hermes baby, sei eu agora, é uma máquina de escrever - seria mais preciso dizer "máquina de datilografia", mas isso tiraria toda a graça do texto. Eu nunca vi uma Hermes baby. Já vi máquinas de escrever (novamente me assombra a "datilografia"). Lembro-me de minha mãe com uma delas, na antiga sala da casa. Mas eu não sou Proust (nem Prost) e só lembro que em minha casa havia uma máquina de escrever e que minha mãe a usava. Ponto.
A máquina que minha mãe usava não devia ser nenhuma Hermes baby. Era uma máquina grande e pesada, com um capa cor-de-burro-quando-foge**. Não tinha toda a beleza, a leveza, a meiguice, a singeleza que um objeto com o nome de Hermes baby deve ter. Se tivesse um nome aquela máquina (Se! Se! Um trombolho como aquele não devia ser digno nem de um nome!), devia se chamar algo como Mamooth Typing Machine, ou Grande Monolito, ou ainda simplesmente O Trombolho de Casa! Os dedos gordinhos de minha mãe (uma mortal, uma reles mortal) não poderiam nunca ousar tocar a santidade de uma Hermes baby!
Já eu, eu nunca tive uma máquina de escrever (exorcizem de mim esse demônio datilográfico!). Nem uma Hermes baby nem uma Mamooth Typing Machine. Durante muito tempo, escrevi artesanalmente com lápis e caneta, em folhas de caderno, papel chamex, apostilas de matemática, bordas de livros. Ainda guardo vícios dessa pré-história da minha escrita. Mas hoje sou moderninho oba-oba e só escrevo no pc. Pelo menos quase sempre e o de mais relevante. De preferência, escrevo na janela do blogger, correndo todos os riscos de perder o texto - o que, ironicamente, também ocorreu com esse texto (salve salve minha memória!).
Como os mais espertinhos de vocês já devem ter percebido, o fim*** desse texto enrolado não é sobre Hermes baby, máquina de escrever, minha mãe ou histórias de como comecei a escrever. Esse texto é para dizer que, depois de tanto tempo sem atualizar o blog, eu estou voltando. Não sei se aos pouquinhos ou se com um monte de textos. Não sei se melhor ou pior, igual ou diferente. Sei que certo dia descobri o que era uma Hermes baby e tive vontade de escrever um texto chamado "Eu nunca tive uma máquina de escrever". E foi o que eu fiz.
* É sempre motivo dúvida dizer o que importa ou não, portante, deve obrigatoriamente ser seguido de interregoção, como preceitua a Gramática Nacional de Complicações Filológicas e Filosóficas.
** Cor-de-burro-quando-foge, para vocês leitores ávidos por um pouco mais de realismo, é para mim aquela cor bege-abóbora, parecendo vôtimo de bebê ressecado. Ajudou?
*** De finalidade, viu!
Sunday, December 11, 2005
Friday, October 07, 2005
Terra Arrasada
- Quando eu digo sim, me rendo. Meus joelhos podem estar machucados dos pedregulhos desse chão, mas minha servidão por isso só é maior. Você sabe que pode fazer o que quiser comigo, eu me regozijo.
- Bom.
Lado a lado, a luz nos emoldura. Duas pessoas olhando a lua nascer e mijar prata no mar. Bar abandonado, longe da cidade. Já disse que é beira do mar? Mar me bota sentimental feito o diabo. Um monte de água enchendo um abismo que vai daqui até todas as terras milhares de quilômetros além, mais fundo do que deve ser a alma, pelo menos a minha. Sou raso como um lago. Só finjo ser profundo e cultivo um poço ou dois pra afogar uns narcisos desavisados vez ou outra. Mas o mar não. É uma profundíssima fera acuada, com suas milumas bocas vindo sempre entregar na praia sua esfíngica mensagem:
- Decifra-me ou te devoro.
Uma terra sem mares é uma alma desnuda. Imagino as expedições desvirginando os abismos, cada pedaço mais recôndito alvo da sagaz curiosidade humana, o homem devorando-se em uma busca infinita de conhecimento. Haveria perigos? Haveria monstros nas cavernas escondidas, nos fossos profundos, que saíriam à noite, se esta houvesse, para devorar os imprudentes que se perdessem pelas trihas do extino engima marinho? O que habitaria o vazio deixado por esse magnífico mar, o que preencheria o espaço das planíceis secas dessa terra arrasada?
Divago. Divago e sinto próximos de mim esses segredos. Seria minha alma rasa já essa terra arrasada e ressequida, um deserto a ser habito por tribos semitas em busca de um deus das tempestades? Seria minha carente de um Moisés? Que recôndito canto da minha personalidade esconde o Monte Sinai a esperar os dez mandamentos que poderiam ditar uma vida? Sinto-me apenas um peregrino, temo o trovão, o sol e a escuridão. Esse exílio incerto que me impus é minha salvação, e as chuvas esparsas me garantem que é melhor a solidão inexpugável do que a certeza aprisionante. Viver a angústia seria o primeiro mandamento?
Faróis passam pela rua, a arma na mão esquerda do homem reluz. Uma mulher está ajoelhada ao seu lado.
- O que quer que eu faça, Danger?
- Morra.
- Bom.
Lado a lado, a luz nos emoldura. Duas pessoas olhando a lua nascer e mijar prata no mar. Bar abandonado, longe da cidade. Já disse que é beira do mar? Mar me bota sentimental feito o diabo. Um monte de água enchendo um abismo que vai daqui até todas as terras milhares de quilômetros além, mais fundo do que deve ser a alma, pelo menos a minha. Sou raso como um lago. Só finjo ser profundo e cultivo um poço ou dois pra afogar uns narcisos desavisados vez ou outra. Mas o mar não. É uma profundíssima fera acuada, com suas milumas bocas vindo sempre entregar na praia sua esfíngica mensagem:
- Decifra-me ou te devoro.
Uma terra sem mares é uma alma desnuda. Imagino as expedições desvirginando os abismos, cada pedaço mais recôndito alvo da sagaz curiosidade humana, o homem devorando-se em uma busca infinita de conhecimento. Haveria perigos? Haveria monstros nas cavernas escondidas, nos fossos profundos, que saíriam à noite, se esta houvesse, para devorar os imprudentes que se perdessem pelas trihas do extino engima marinho? O que habitaria o vazio deixado por esse magnífico mar, o que preencheria o espaço das planíceis secas dessa terra arrasada?
Divago. Divago e sinto próximos de mim esses segredos. Seria minha alma rasa já essa terra arrasada e ressequida, um deserto a ser habito por tribos semitas em busca de um deus das tempestades? Seria minha carente de um Moisés? Que recôndito canto da minha personalidade esconde o Monte Sinai a esperar os dez mandamentos que poderiam ditar uma vida? Sinto-me apenas um peregrino, temo o trovão, o sol e a escuridão. Esse exílio incerto que me impus é minha salvação, e as chuvas esparsas me garantem que é melhor a solidão inexpugável do que a certeza aprisionante. Viver a angústia seria o primeiro mandamento?
Faróis passam pela rua, a arma na mão esquerda do homem reluz. Uma mulher está ajoelhada ao seu lado.
- O que quer que eu faça, Danger?
- Morra.
Tuesday, September 27, 2005
Vilma
- Só uma água, por favor.
Poderia pedir um scotch, uma vodka, ou uma cerveja choca, o que combinaria melhor com a cortina de cigarros desse lugar, mas minha saúde é frágil. Sofro de uma doença que não diagnostiquei, que não tratei, que apenas resolvi ignorar como umâ rejeição da infância que continua a me atormentar nas noites suadas desse verão. A palidez da minha pele, os músculos frágeis, tão frágeis que quase se colam aos ossos. Sina de ser desamparada, desde nascida. Um corpo frágil para quem sempre quis tudo.
Aquele homem de ombros largos, queria sê-lo. Queria ser a caneca de meio litro de cerveja que ele ostenta como um bárbaro ancestral voltando de batalhas, o espólio de sua guerra, a cativa de seus braços. Não, não, não. Não quero novamente ser dominada. Esse meu instinto baixo de querer ser a suja rameira dos fortes deve ser reprimido pela minha vontade infinitamente contida de ser o forte. Quero ser o forte! Quero ser a valquíria liberta a matar a serpente do mundo, a Eva safada que dorme com a serpente, a c0ntadora de histórias que assassina o sultão, a princesa encantada que castra o príncipe surpreso. Quero ser a destruição!
Me chamo Vilma. Sim, um homem pode acabar comigo com um tapa. Posso ser facilmente esmagada pela força pura e bela dos fortes. Mas sobrevivo da minha vida interior, desse néctar que surge das minhas entranhas e se acaba nelas mesmas. Vivo em mim mesma, nem por isso vivo mais ou vivo menos. Vivo uma vida secreta que infindáveis livros de cabeceira não poderiam conter.
Não sou boa com quem convive comigo. Mas ninguém convive comigo. Apenas passam por mim, usam-me, tiram o que querem de mim, pagam-me para ser uma rameira, uma rameira! Mas eu sou viva! Vós não sabeis, amantes, mas tenho-vos todos tatuados em mim! Tenho-vos todos gravados em brasa, sei dos seus segredos, sei de suas angústias! Sou o pesadelo que os esgotos irão regurgitar de volta no dia em que suas brincadeiras pervertidas caírem da corda bamba de suas vidas!
- Aqui está sua água. Mais alguma coisa?
- Não. Obrigada, Garoto...
Poderia pedir um scotch, uma vodka, ou uma cerveja choca, o que combinaria melhor com a cortina de cigarros desse lugar, mas minha saúde é frágil. Sofro de uma doença que não diagnostiquei, que não tratei, que apenas resolvi ignorar como umâ rejeição da infância que continua a me atormentar nas noites suadas desse verão. A palidez da minha pele, os músculos frágeis, tão frágeis que quase se colam aos ossos. Sina de ser desamparada, desde nascida. Um corpo frágil para quem sempre quis tudo.
Aquele homem de ombros largos, queria sê-lo. Queria ser a caneca de meio litro de cerveja que ele ostenta como um bárbaro ancestral voltando de batalhas, o espólio de sua guerra, a cativa de seus braços. Não, não, não. Não quero novamente ser dominada. Esse meu instinto baixo de querer ser a suja rameira dos fortes deve ser reprimido pela minha vontade infinitamente contida de ser o forte. Quero ser o forte! Quero ser a valquíria liberta a matar a serpente do mundo, a Eva safada que dorme com a serpente, a c0ntadora de histórias que assassina o sultão, a princesa encantada que castra o príncipe surpreso. Quero ser a destruição!
Me chamo Vilma. Sim, um homem pode acabar comigo com um tapa. Posso ser facilmente esmagada pela força pura e bela dos fortes. Mas sobrevivo da minha vida interior, desse néctar que surge das minhas entranhas e se acaba nelas mesmas. Vivo em mim mesma, nem por isso vivo mais ou vivo menos. Vivo uma vida secreta que infindáveis livros de cabeceira não poderiam conter.
Não sou boa com quem convive comigo. Mas ninguém convive comigo. Apenas passam por mim, usam-me, tiram o que querem de mim, pagam-me para ser uma rameira, uma rameira! Mas eu sou viva! Vós não sabeis, amantes, mas tenho-vos todos tatuados em mim! Tenho-vos todos gravados em brasa, sei dos seus segredos, sei de suas angústias! Sou o pesadelo que os esgotos irão regurgitar de volta no dia em que suas brincadeiras pervertidas caírem da corda bamba de suas vidas!
- Aqui está sua água. Mais alguma coisa?
- Não. Obrigada, Garoto...
Wednesday, September 14, 2005
Dois rápidos comentários
1 - Time is NOT on my side
Desculpa a todos os amigos virtuais e reais (ahn?!) pela minha falta de consideração. Estou realmente ocupado com o trabalho, tenho entrado pouco na internet e, sinceramente, estou precisando me dedicar um pouquinho mais à vida real agora (ahn?! de novo!). Desculpem pelos poucos comentários (ou falta deles) nos blogs, pela falta de resposta no orkut, pelos e-mails não respondidos e pela ausência no MSN. Enfim, por tudo. A galera de Aracaju pode me encontrar no fone ou na farra, escolham. Semrumo, estou REALMENTE com saudades das nossas conversas. Não te esqueci não, viu!?
2 - Time is not on MY side
Desculpem pela porcaria de texto aí embaixo, foi o melhor que eu consegui fazer pra não deixar esse blog abandonado. Prometo que vou me dedicar um poquinho mais nos próximos.
Gotta go, see ya.
Desculpa a todos os amigos virtuais e reais (ahn?!) pela minha falta de consideração. Estou realmente ocupado com o trabalho, tenho entrado pouco na internet e, sinceramente, estou precisando me dedicar um pouquinho mais à vida real agora (ahn?! de novo!). Desculpem pelos poucos comentários (ou falta deles) nos blogs, pela falta de resposta no orkut, pelos e-mails não respondidos e pela ausência no MSN. Enfim, por tudo. A galera de Aracaju pode me encontrar no fone ou na farra, escolham. Semrumo, estou REALMENTE com saudades das nossas conversas. Não te esqueci não, viu!?
2 - Time is not on MY side
Desculpem pela porcaria de texto aí embaixo, foi o melhor que eu consegui fazer pra não deixar esse blog abandonado. Prometo que vou me dedicar um poquinho mais nos próximos.
Gotta go, see ya.
Corra, Danger, corra
Corre que o bicho pega. Corre, pequeno Danger, que o tempo está no seu encalço. Corre, recordações, memórias, lembranças, flashbacks, o passado quer te pegar. Corre, Danger, diz uma voz macia ao meu ouvido.
Ventos novos sopram com toda força pelas janelas abertas do carro. Uma rodovia deserta, sete lindas horas da manhã, o que diabos estou fazendo acordado, 120, 130, 140 quilômetros por hora, meu carro não foi feito pra isso. Estou à beira da praia, um ponto negro contornando o mar.
As imagens da noite surgem e se desfazem continuamente. Um vapor, um filme, um holograma no banco do passageiro, acelero o carro, tudo passa mais rápido. Uma vodka ocupa o lugar dela, eu nunca acabo sozinho. Corre, Danger, a lembrança está chegando com cheiros de desespero. Corre que o vento desfaz tudo, a velocidade empolga e mata o passado. Vai rápido que você salva sua vida.
Hahaha. Acaso, acaso, você sempre põe um maldito buraco no meu caminho. Não, meu caros amigos, essa não é uma estrada portuguesa, com certeza. Um roda voa fora do eixo, a suspensão deixa de existir, enfim eu perco o controle. Vamos girar, o mundo dá voltas, mas cada volta é um novo impacto, vidro, asfalto, aço. Um volta, duas, três, quando tudo vai parar de girar?
Não, eu não quero esse fim. Continue, bendito carro. Corra, Danger, corra. Corra até o fim do mundo engolir o seu desejo.
Time is NOT on my side.
Ventos novos sopram com toda força pelas janelas abertas do carro. Uma rodovia deserta, sete lindas horas da manhã, o que diabos estou fazendo acordado, 120, 130, 140 quilômetros por hora, meu carro não foi feito pra isso. Estou à beira da praia, um ponto negro contornando o mar.
As imagens da noite surgem e se desfazem continuamente. Um vapor, um filme, um holograma no banco do passageiro, acelero o carro, tudo passa mais rápido. Uma vodka ocupa o lugar dela, eu nunca acabo sozinho. Corre, Danger, a lembrança está chegando com cheiros de desespero. Corre que o vento desfaz tudo, a velocidade empolga e mata o passado. Vai rápido que você salva sua vida.
Hahaha. Acaso, acaso, você sempre põe um maldito buraco no meu caminho. Não, meu caros amigos, essa não é uma estrada portuguesa, com certeza. Um roda voa fora do eixo, a suspensão deixa de existir, enfim eu perco o controle. Vamos girar, o mundo dá voltas, mas cada volta é um novo impacto, vidro, asfalto, aço. Um volta, duas, três, quando tudo vai parar de girar?
Não, eu não quero esse fim. Continue, bendito carro. Corra, Danger, corra. Corra até o fim do mundo engolir o seu desejo.
Time is NOT on my side.
Thursday, September 08, 2005
Carta
Home,
Estou escrevendo esta carta para dizer que nunca te encontrei. Eu nunca estive onde você estava, onde você esteve. Minha margem era sempre o fundo do rio. Você insistia em voar de asa delta.
Ontem sentei novamente na ponta daquele quebra-mar. Lembrei das tantas vezes em que tudo era saber você. Lembra do universo que era meu corpo? Está implodindo, toda aquela escuridão de beleza, de prazer, de intimidade, está indo embora. Meu corpo (e isso é algo que me deixa triste) está voltando a ter a cor de sempre. Mas essa, essa cor não fica para sempre e você também não vai ficar.
Estou escrevendo esta carta porque o tempo é inevitável. Esta carta foi feita para ser perdida dentro de um livro esquecido na estante, para ser roída pela traça mais gordinha que a sua biblioteca tiver, para ser encontrada por escanfandristas (Ah! Chico Buarque...) quando o dilúvio vier e o sertão virar mar. Esta é uma carta feita para ser desfeita.
Ontem foi ontem novamente e eu lembrei de você pela penúltima vez. A última ainda está por vir, e não é essa. Ontem foi ontem, mas a minha sede, que você imbecilmente ignora, é de apenas um hoje feliz. É de um carinho que retorne para mim como o protetor solar espalhado nas suas costas. Eu também quero me proteger do sol. Quero que me protejam.
Estou escrevendo esta carta porque não paguei o telefone, esqueci dos prazos esperando que as nuvens refizessem a imagem do seu rosto. Estou escrevendo esta carta porque você não atende o telefone. Estou escrevendo esta carta molhado da chuva que tomei no orelhão.
Ontem ficará para trás, mas enquanto isso eu deixo esse dia ecoar no meu albúm de fotos imaginário. Irá diminuir, diminuir, passará de poster de 3 folhas, frente e verso, para uma fotografia 3 x4 no canto inferior esquerdo da página ímpar. Vai ser preciso separar com cuidado as folhas para não arrancar seu rosto dali. Enquanto isso, ocupe o espaço que quiser.
Estou escrevendo esta carta porque você não quer. Estou escrevendo esta carta porque não sei onde você está.
Escrevi esta carta, mas não sei como entregar.
Carinho,
Later.
Estou escrevendo esta carta para dizer que nunca te encontrei. Eu nunca estive onde você estava, onde você esteve. Minha margem era sempre o fundo do rio. Você insistia em voar de asa delta.
Ontem sentei novamente na ponta daquele quebra-mar. Lembrei das tantas vezes em que tudo era saber você. Lembra do universo que era meu corpo? Está implodindo, toda aquela escuridão de beleza, de prazer, de intimidade, está indo embora. Meu corpo (e isso é algo que me deixa triste) está voltando a ter a cor de sempre. Mas essa, essa cor não fica para sempre e você também não vai ficar.
Estou escrevendo esta carta porque o tempo é inevitável. Esta carta foi feita para ser perdida dentro de um livro esquecido na estante, para ser roída pela traça mais gordinha que a sua biblioteca tiver, para ser encontrada por escanfandristas (Ah! Chico Buarque...) quando o dilúvio vier e o sertão virar mar. Esta é uma carta feita para ser desfeita.
Ontem foi ontem novamente e eu lembrei de você pela penúltima vez. A última ainda está por vir, e não é essa. Ontem foi ontem, mas a minha sede, que você imbecilmente ignora, é de apenas um hoje feliz. É de um carinho que retorne para mim como o protetor solar espalhado nas suas costas. Eu também quero me proteger do sol. Quero que me protejam.
Estou escrevendo esta carta porque não paguei o telefone, esqueci dos prazos esperando que as nuvens refizessem a imagem do seu rosto. Estou escrevendo esta carta porque você não atende o telefone. Estou escrevendo esta carta molhado da chuva que tomei no orelhão.
Ontem ficará para trás, mas enquanto isso eu deixo esse dia ecoar no meu albúm de fotos imaginário. Irá diminuir, diminuir, passará de poster de 3 folhas, frente e verso, para uma fotografia 3 x4 no canto inferior esquerdo da página ímpar. Vai ser preciso separar com cuidado as folhas para não arrancar seu rosto dali. Enquanto isso, ocupe o espaço que quiser.
Estou escrevendo esta carta porque você não quer. Estou escrevendo esta carta porque não sei onde você está.
Escrevi esta carta, mas não sei como entregar.
Carinho,
Later.
Saturday, August 27, 2005
O braço
Lembra quando te apertava contra mim? Lembra quando te abraçava e protegia da chuva? Você, encolhida, encoberta pelo meu corpo? Lembra da minha mão alisando teu rosto, conhecendo teu corpo? Lembra do meu braço?
Cortei. Ontem, pela manhã, desci até um dos lugares abandonados da casa. Entre aquários vazios, povoados apenas com a alma suja dos peixinhos; entre caixas de papelão rasgadas, desgastadas pelo tempo; entre ferramentas enferrujadas, esquecidas de consertar tudo; peguei uma tesoura de jardineiro, cabo alaranjado, descascado pela ferrugem, lâmina enferrujada. Tive que pedir ao vizinho, era difícil fazer sozinho. Fomos até a praça, para não sujar nossas calçadas de sangue, e ele cortou meu braço fora, na altura do cotovelo. Não doeu.
Quem é que vai te abraçar agora? Quem é que vai te proteger? Só posso dar metade do que fui, do que dei. Cortei meu braço pra te deixar precisando do que já não posso dar.
Enrolei o braço num jornal velho para não manchar o piso de sangue. Laveio-o bem, esperei o sangue sair, esperei parar de sangrar. O tempo era grande, se estendia pelos silêncios. Assisti televisão para esquecer de mim.
Vou dormir com o braço ao meu lado. Ainda sangra um pouco, coloquei uma toalha para não sujar minha cama. Os dedos do braço acariciam meu rosto. Será que ele vai me fazer companhia agora? Ele que tanto já fez por você, por outras, por todos os outros? Pelo menos é o esquerdo, ainda posso escrever.
Sonho com espirais de um rosto que não reconheço; palhaços tristes cortando os pulsos; garrafas de vodka cainda de edifícios; um adeus nas cordas de uma guitarra elétrica; carros batendo em postes, em muros, em outros carros. Sonho sonhos violentos, e balbucio para os ouvidos de ninguém frases que só a saudade entenderia. O braço dorme tranquilo, pedaço do que já foi meu corpo, embalsamado na minha memória.
Cortei. Ontem, pela manhã, desci até um dos lugares abandonados da casa. Entre aquários vazios, povoados apenas com a alma suja dos peixinhos; entre caixas de papelão rasgadas, desgastadas pelo tempo; entre ferramentas enferrujadas, esquecidas de consertar tudo; peguei uma tesoura de jardineiro, cabo alaranjado, descascado pela ferrugem, lâmina enferrujada. Tive que pedir ao vizinho, era difícil fazer sozinho. Fomos até a praça, para não sujar nossas calçadas de sangue, e ele cortou meu braço fora, na altura do cotovelo. Não doeu.
Quem é que vai te abraçar agora? Quem é que vai te proteger? Só posso dar metade do que fui, do que dei. Cortei meu braço pra te deixar precisando do que já não posso dar.
Enrolei o braço num jornal velho para não manchar o piso de sangue. Laveio-o bem, esperei o sangue sair, esperei parar de sangrar. O tempo era grande, se estendia pelos silêncios. Assisti televisão para esquecer de mim.
Vou dormir com o braço ao meu lado. Ainda sangra um pouco, coloquei uma toalha para não sujar minha cama. Os dedos do braço acariciam meu rosto. Será que ele vai me fazer companhia agora? Ele que tanto já fez por você, por outras, por todos os outros? Pelo menos é o esquerdo, ainda posso escrever.
Sonho com espirais de um rosto que não reconheço; palhaços tristes cortando os pulsos; garrafas de vodka cainda de edifícios; um adeus nas cordas de uma guitarra elétrica; carros batendo em postes, em muros, em outros carros. Sonho sonhos violentos, e balbucio para os ouvidos de ninguém frases que só a saudade entenderia. O braço dorme tranquilo, pedaço do que já foi meu corpo, embalsamado na minha memória.
Friday, August 26, 2005
Come Back
É o seguinte: eu tou querendo voltar a escrever aqui, estou cheio de idéias, mas a porcaria da minha internet não está acessando nenhum blog, nem o orkut nem o google. Enfim, ainda deve demorar um pouco pra conseguir postar alguma coisa aqui. Tomara que não aconteça nada no caminho que me deixa cabisbaixo e resmungão de novo.
Observação: O que está me salvando é o computador do trabalho, mas não tenho nem tempo nem clima para escrever aqui.
I'm (coming) back, baby!
Observação: O que está me salvando é o computador do trabalho, mas não tenho nem tempo nem clima para escrever aqui.
I'm (coming) back, baby!
Sunday, August 21, 2005
Abandonando
Não estranhem se isso aqui ficar repentinamente abandonado. A cabeça está ocupada com outras coisas agora, a criativadade está um pouco bloqueada. Volto quando conseguir escrever de novo sem ficar nervoso ou puto da vida com o que escrevi.
Thursday, August 18, 2005
Cicatrizes
A porta se abre, o apartamento não está escuro como devia. Do corredor, alguma luz vem. Isso não está certo.
Antes mesmo que comece a pensar que é um ladrão, esquecimento, poltergeist, a ex-mulher fuçando o armário ou alguma nova acrobacia exótica que a cadela do apartemento teria inventado, todas as futuras suposições se desfazem no esboço. É preciso suportar a dureza de ver A Bruxa.
- Que é que você tá fazendo aqui? Como é que entrou? Quem te deu o direito de entrar aqui quando eu tou fora?
Fria. Fria e calculista. Sádica. Ela não responde logo, não fica exaltada como eu já estou. Deixa o silêncio corroer minha paciência, dá alguns passos felinos em minha direção, pára com as mãos na cintura, o rosto levantado, Atena, a Guerreira.
- Calma, queridinho. Vai com calma. Quer saber o quê primeiro?
- Deixa de me enrolar e fala logo. Depois dá o fora.
- Hum...que hostilidade. Uma coisa de cada vez. Primeiro: tava aqui te esperando. Segundo: entrei aqui pela porta. Terceiro: quem me deu o direito de entrar aqui foi a cópia da sua chave que eu tirei quando você estava completamente bêbado naquele outro dia. Explicado? Feliz?
- Me esperando pra quê?
- Pra te dizer que tou indo pra Salvador na próxima semana, vou passar um tempo lá. E preciso que você me dê alguma grana.
- Tá me achando com cara de seu pai?
- Não, eu não deixaria meu pai fazer o que você faz comigo. Mas eu sei que você faria qualquer coisa pra me ver feliz. Ah, e é por uma boa causa. Vou fazer uma tatuagem nova. Você vai gostar quando eu voltar.
É normal se sentir frágil frente à dominação do governo, capitalismo, família ou qualquer outra coisa que um revolucionariozinho de esquina estaria pronto pra te dizer. São grandes, são fortes, são muitos. A alternativa nunca está ali na sua frente. Você não conhece ninguém que se livrou deles, no máximo já ouviu uma história, mas pensou que era lenda. Diferente é ser dominado por uma piranhazinha cínica, inocentemente cruel. Você poderia acabar com ela aqui mesmo. Você poderia mandar aos infernos toda a educação e respeito pelas mulheres que te ensinaram e simplesmente esmurrar a cara dela até que só restasse a trilha de sangue dela se arrastando pra fora do seu apartamento. Mas não.
Você não faz isso. Você pega a sua carteira, tira todo o dinheiro que está ali dentro, o que já não é pouco, e, como bom macaco adestrado, ainda pergunta:
- Você acha que vai precisar de mais?
A sua resposta é a porta batendo, um corpo que se despede de você deixando mais uma cicatriz de humilhação. E você, todo-poderoso Danger, vai procurar carinho na sua cachorra de estimação, dorme com a cabeça encostada a um ventre, embalado pelo acalanto de uma respiração, sonhando com aquela que nunca está.
Antes mesmo que comece a pensar que é um ladrão, esquecimento, poltergeist, a ex-mulher fuçando o armário ou alguma nova acrobacia exótica que a cadela do apartemento teria inventado, todas as futuras suposições se desfazem no esboço. É preciso suportar a dureza de ver A Bruxa.
- Que é que você tá fazendo aqui? Como é que entrou? Quem te deu o direito de entrar aqui quando eu tou fora?
Fria. Fria e calculista. Sádica. Ela não responde logo, não fica exaltada como eu já estou. Deixa o silêncio corroer minha paciência, dá alguns passos felinos em minha direção, pára com as mãos na cintura, o rosto levantado, Atena, a Guerreira.
- Calma, queridinho. Vai com calma. Quer saber o quê primeiro?
- Deixa de me enrolar e fala logo. Depois dá o fora.
- Hum...que hostilidade. Uma coisa de cada vez. Primeiro: tava aqui te esperando. Segundo: entrei aqui pela porta. Terceiro: quem me deu o direito de entrar aqui foi a cópia da sua chave que eu tirei quando você estava completamente bêbado naquele outro dia. Explicado? Feliz?
- Me esperando pra quê?
- Pra te dizer que tou indo pra Salvador na próxima semana, vou passar um tempo lá. E preciso que você me dê alguma grana.
- Tá me achando com cara de seu pai?
- Não, eu não deixaria meu pai fazer o que você faz comigo. Mas eu sei que você faria qualquer coisa pra me ver feliz. Ah, e é por uma boa causa. Vou fazer uma tatuagem nova. Você vai gostar quando eu voltar.
É normal se sentir frágil frente à dominação do governo, capitalismo, família ou qualquer outra coisa que um revolucionariozinho de esquina estaria pronto pra te dizer. São grandes, são fortes, são muitos. A alternativa nunca está ali na sua frente. Você não conhece ninguém que se livrou deles, no máximo já ouviu uma história, mas pensou que era lenda. Diferente é ser dominado por uma piranhazinha cínica, inocentemente cruel. Você poderia acabar com ela aqui mesmo. Você poderia mandar aos infernos toda a educação e respeito pelas mulheres que te ensinaram e simplesmente esmurrar a cara dela até que só restasse a trilha de sangue dela se arrastando pra fora do seu apartamento. Mas não.
Você não faz isso. Você pega a sua carteira, tira todo o dinheiro que está ali dentro, o que já não é pouco, e, como bom macaco adestrado, ainda pergunta:
- Você acha que vai precisar de mais?
A sua resposta é a porta batendo, um corpo que se despede de você deixando mais uma cicatriz de humilhação. E você, todo-poderoso Danger, vai procurar carinho na sua cachorra de estimação, dorme com a cabeça encostada a um ventre, embalado pelo acalanto de uma respiração, sonhando com aquela que nunca está.
Tuesday, August 16, 2005
De árvores e saídas
As leituras do fim de semana renderam duas passagens antológicas:
"Trepar numa árvore é empresa pessoal que talvez não volte a se repetir nunca. Quem se abraça ao peito alto de um tronco, realiza uma espécie de ato nupcial, deflorando um mundo secreto, jamais visto por outros homens. A vista abarca, de pronto, todas as belezas e todas as imperfeições da Árvore. Sabe-se das duas ramas tenras, que se apartam como coxas de mulher, ocultando na juntura um punhado de musgo verde. Sabe-se das feridas redondas deixadas pela queda das vergônteas secas. Sabe-se das esplendorosas ogivas de cima, tanto como das bifurcações estranhas que carregam todas as seivas a um madeiro favorecido, deixando outro na esqualidez do sarmento bom para as chamas."
Alejo Carpentier, em O Século das Luzes.
"Todas as soluções que imagino são internas ao sistema amoroso: isolamento, viagem, suicídio, é sempre o amante que se enclausura, parte ou morre; quando ele se vê enclausurado, distante ou morto, o que continua a ver é um amante: ordeno a mim mesmo continuar sendo amante e não mais sê-lo. Essa espécie de identidade do problema e de sua solução define precisamente a armadilha: estou numa armadilha porque não está em mim mudar de sistema: sou "pego" duas vezes: no interior de meu próprio sistema e porque não posso susbtituí-lo por um outro. Este duplo nó define, parece, um certo tipo de loucura (a armadilha se fecha quando o infortúnio fica em seu contrário: "Para que infortúnio haja, é preciso que o próprio bem machuque". Quebra-cabeça: para "sair dessa", eu teria que sair do sistema - do qual quero sair, etc. Se não fosse da "natureza" do delírio amoroso passar, ruir por si mesmo, ninguém jamais poderia pôr-lhe um fim (não é por estar morto que Werther deixou de estar enamorado, muito pelo contrário).
Roland Barthes, em Fragmentos de um discurso amoroso
"Trepar numa árvore é empresa pessoal que talvez não volte a se repetir nunca. Quem se abraça ao peito alto de um tronco, realiza uma espécie de ato nupcial, deflorando um mundo secreto, jamais visto por outros homens. A vista abarca, de pronto, todas as belezas e todas as imperfeições da Árvore. Sabe-se das duas ramas tenras, que se apartam como coxas de mulher, ocultando na juntura um punhado de musgo verde. Sabe-se das feridas redondas deixadas pela queda das vergônteas secas. Sabe-se das esplendorosas ogivas de cima, tanto como das bifurcações estranhas que carregam todas as seivas a um madeiro favorecido, deixando outro na esqualidez do sarmento bom para as chamas."
Alejo Carpentier, em O Século das Luzes.
"Todas as soluções que imagino são internas ao sistema amoroso: isolamento, viagem, suicídio, é sempre o amante que se enclausura, parte ou morre; quando ele se vê enclausurado, distante ou morto, o que continua a ver é um amante: ordeno a mim mesmo continuar sendo amante e não mais sê-lo. Essa espécie de identidade do problema e de sua solução define precisamente a armadilha: estou numa armadilha porque não está em mim mudar de sistema: sou "pego" duas vezes: no interior de meu próprio sistema e porque não posso susbtituí-lo por um outro. Este duplo nó define, parece, um certo tipo de loucura (a armadilha se fecha quando o infortúnio fica em seu contrário: "Para que infortúnio haja, é preciso que o próprio bem machuque". Quebra-cabeça: para "sair dessa", eu teria que sair do sistema - do qual quero sair, etc. Se não fosse da "natureza" do delírio amoroso passar, ruir por si mesmo, ninguém jamais poderia pôr-lhe um fim (não é por estar morto que Werther deixou de estar enamorado, muito pelo contrário).
Roland Barthes, em Fragmentos de um discurso amoroso
Thursday, August 11, 2005
Mesa 7
- Cliente na mesa 7, Garoto.
Mr. Despair, o dono do bar. Mr. Despair, o grande anfitrião. Dono do Bunker. Mr. Despair, the big, the great, the god-father. Sim, senhor. Não, senhor. É pra já, senhor. Perdão, senhor. Abençoai-me, Senhor. Tento acreditar que cada dia nessa podridão é só mais uma provação a que tenho que me submeter.
Aperta o pequeno crucifixo que pende de uma corrente de ouro. Dai-me forças, Senhor.
Bar lotado, lugar pequeno, pessoas mal-educadas, a maioria mal me nota, mal me olha na cara. Contanto que eu os mantenha bêbados, eles fingem estar felizes.
- Garoto, uma vodca com gelo!
Eu tento dizer olá para Danger também, mas o som está muito alto. Eu falo baixo, e uma música explode pelo bar, meu inglês de capa de disco me ajuda, é algo sobre um macaco indo para o paraíso. Acho que entendi errado.
If the man is five
Mesa 7. O canto mais escuro do bar, a música chega abafada, dá pra ver só umas duas mesas, se tivesse uma parede e uma porta, seria um quarto. Talvez virasse sala VIP. Por enquanto, é o lugar dos solitários, dos desesperados, dos desesperançosos, dos imperdoáveis. Já conta três suicidas no histórico. Um enforcou-se, outro cortou os pulsos, o último pulou do 11 andar do prédio. Mesa 7, um drink antes do inferno.
And the devil is six
Imagino o tormento que essas pobres almas passam quando descobrem que existe algo DEPOIS. Imagino-as caindo dos prédios, a rua aproximando-se, virando um poço negro, uma queda que não tem fim, os prédios, os carros, as pessoas, tudo virando escuridão, e de repente não há mais de repente, é sempre a mesma, igual e infinda, infinita queda. Nessas horas me imagino um anjo lindo, uma águia branca até a alma, descendo por esse túnel escuro, trazendo a luz mais branca que minhas penas, um sol mais puro que o Sol, devolvendo o perdão, a esperança, o alento e a segurança para todas aquelas almas caindo ao meu redor.
Then God is seven
- Deseja alguma coisa, senhor?
Os olhos mais tristes do mundo me dizem para deixá-lo em paz.
Mr. Despair, o dono do bar. Mr. Despair, o grande anfitrião. Dono do Bunker. Mr. Despair, the big, the great, the god-father. Sim, senhor. Não, senhor. É pra já, senhor. Perdão, senhor. Abençoai-me, Senhor. Tento acreditar que cada dia nessa podridão é só mais uma provação a que tenho que me submeter.
Aperta o pequeno crucifixo que pende de uma corrente de ouro. Dai-me forças, Senhor.
Bar lotado, lugar pequeno, pessoas mal-educadas, a maioria mal me nota, mal me olha na cara. Contanto que eu os mantenha bêbados, eles fingem estar felizes.
- Garoto, uma vodca com gelo!
Eu tento dizer olá para Danger também, mas o som está muito alto. Eu falo baixo, e uma música explode pelo bar, meu inglês de capa de disco me ajuda, é algo sobre um macaco indo para o paraíso. Acho que entendi errado.
If the man is five
Mesa 7. O canto mais escuro do bar, a música chega abafada, dá pra ver só umas duas mesas, se tivesse uma parede e uma porta, seria um quarto. Talvez virasse sala VIP. Por enquanto, é o lugar dos solitários, dos desesperados, dos desesperançosos, dos imperdoáveis. Já conta três suicidas no histórico. Um enforcou-se, outro cortou os pulsos, o último pulou do 11 andar do prédio. Mesa 7, um drink antes do inferno.
And the devil is six
Imagino o tormento que essas pobres almas passam quando descobrem que existe algo DEPOIS. Imagino-as caindo dos prédios, a rua aproximando-se, virando um poço negro, uma queda que não tem fim, os prédios, os carros, as pessoas, tudo virando escuridão, e de repente não há mais de repente, é sempre a mesma, igual e infinda, infinita queda. Nessas horas me imagino um anjo lindo, uma águia branca até a alma, descendo por esse túnel escuro, trazendo a luz mais branca que minhas penas, um sol mais puro que o Sol, devolvendo o perdão, a esperança, o alento e a segurança para todas aquelas almas caindo ao meu redor.
Then God is seven
- Deseja alguma coisa, senhor?
Os olhos mais tristes do mundo me dizem para deixá-lo em paz.
Tuesday, August 09, 2005
Wake up, you fools
Hum. Parece que a temporada de músicas legais está aberta.
The Arcade Fire. Inegavelmente incrível. Rapha, valeu pela indicação. Mesmo que você não tenha indicado para mim, foi por quem eu primeiro fiquei sabendo dessa banda que já está nas minhas Top 5. "Funeral" é certamente um CD que eu preciso adiquirir. E rápido!
Wake up
(The Arcade Fire)
Somethin’ filled up
my heart with nothin’,
someone told me not to cry.
But now that I’m older,
my heart’s colder,
and I can see that it’s a lie.
Children wake up,
hold your mistake up,
before they turn the summer into dust.
If the children don’t grow up,
our bodies get bigger but our hearts get torn up.
We’re just a million little god’s causin rain storms turnin’ every good thing to rust.
I guess we’ll just have to adjust.
With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am goin’ to be
when the reaper he reaches and touches my hand.
With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am goin’
With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am go-goin’
You better look out below!
Agora volto para meus milhões de redações. Argh!
The Arcade Fire. Inegavelmente incrível. Rapha, valeu pela indicação. Mesmo que você não tenha indicado para mim, foi por quem eu primeiro fiquei sabendo dessa banda que já está nas minhas Top 5. "Funeral" é certamente um CD que eu preciso adiquirir. E rápido!
Wake up
(The Arcade Fire)
Somethin’ filled up
my heart with nothin’,
someone told me not to cry.
But now that I’m older,
my heart’s colder,
and I can see that it’s a lie.
Children wake up,
hold your mistake up,
before they turn the summer into dust.
If the children don’t grow up,
our bodies get bigger but our hearts get torn up.
We’re just a million little god’s causin rain storms turnin’ every good thing to rust.
I guess we’ll just have to adjust.
With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am goin’ to be
when the reaper he reaches and touches my hand.
With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am goin’
With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am go-goin’
You better look out below!
Agora volto para meus milhões de redações. Argh!
Sunday, August 07, 2005
Fio de Vida
Alguém pisa na poça d'água. Um tênis azul molhado espalhando água. A barra do jeans também molhada. Casaco, blusa, cabelo. No fundo da chuva, no fundo da noite, dois olhos negros de desespero brilham. Molhados.
O guarda-chuva pende inútil de sua mão. Não o ergue. Está aberto, mas permanece apontado para baixo, balançando. O guarda-chuva preto, um espelho.
Quatro horas da madrugada. Chove na cidade inteira. Do alto no viaduto, plantado nas linhas que dividem uma pista de outra, olha para os prédios de sua cidade e não os vê. Nunca tinha os deixado de ver dessa maneira. Uma chuva que encobre toda visão. Toda realidade.
Atravessa a rua até o parapeito do viaduto. Um carro já poderia tê-lo atropelado, mas a chuva está desviando tudo do caminho. Bendita chuva. O bloco de concreto entre o asfalto e o ar não é grosso, não é fino. Cabe um pé no comprimento. O tênis toca o fio da navalha. Molhado. Isso vai ser difícil.
Andar no fio da navalha, na linha da navalha, na linha que corta a vida, a que separa a pedra do ar, o caminho da queda. A vida por um fio de navalha. Um, dois, três, quatro. Como equilibrista de circo, pé ante pé, braços abertos, o Criso Redentor dando seus passos de estátua.
O vento aqui corre com a serenidade dos temporais, com a calmaria das catástrofes, o afeto dos holocaustos. Carinho é só uma forma controlada da violência. Violência é só uma forma descontrolada do carinho. Cinco, seis, sete, oito. Aqui a chuva me acaricia e me aflige. Meu látego e meu leito, meu suplício e meu sossego. Chuva, chuva, me cubra até a borda do desespero.
Nove, dez...Ah...Escorreguei.
O guarda-chuva pende inútil de sua mão. Não o ergue. Está aberto, mas permanece apontado para baixo, balançando. O guarda-chuva preto, um espelho.
Quatro horas da madrugada. Chove na cidade inteira. Do alto no viaduto, plantado nas linhas que dividem uma pista de outra, olha para os prédios de sua cidade e não os vê. Nunca tinha os deixado de ver dessa maneira. Uma chuva que encobre toda visão. Toda realidade.
Atravessa a rua até o parapeito do viaduto. Um carro já poderia tê-lo atropelado, mas a chuva está desviando tudo do caminho. Bendita chuva. O bloco de concreto entre o asfalto e o ar não é grosso, não é fino. Cabe um pé no comprimento. O tênis toca o fio da navalha. Molhado. Isso vai ser difícil.
Andar no fio da navalha, na linha da navalha, na linha que corta a vida, a que separa a pedra do ar, o caminho da queda. A vida por um fio de navalha. Um, dois, três, quatro. Como equilibrista de circo, pé ante pé, braços abertos, o Criso Redentor dando seus passos de estátua.
O vento aqui corre com a serenidade dos temporais, com a calmaria das catástrofes, o afeto dos holocaustos. Carinho é só uma forma controlada da violência. Violência é só uma forma descontrolada do carinho. Cinco, seis, sete, oito. Aqui a chuva me acaricia e me aflige. Meu látego e meu leito, meu suplício e meu sossego. Chuva, chuva, me cubra até a borda do desespero.
Nove, dez...Ah...Escorreguei.
Thursday, August 04, 2005
Pra não dizer que não falei besteira
Então, garotos e garotas, faz tempo que eu não posto uma música aqui. Só pra ocupar espaço e tentar dizer o que se passa em parte de mim. Em parte porque, como bom geminiano, misturo várias emoções e sinto, penso e ajo das mais diversas formas possíveis, tudo ao mesmo tempo. E eu pergunto: por que não?
Bem, lá vai uma música descoberta recentemente (não, eu não vi Closer ainda, então não conhecia essa música...) que é bonitinha e consegue me comover do mesmo jeito que "Simplesmente Amor" (aquela comédia romântica boboca e tocante).
The Blower's Daughter
(Damien Rice)
And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...
And so it is
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time
And so it is
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...
Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off you
I can't take my mind...
My mind...my mind...
'Til I find somebody new
Bem, lá vai uma música descoberta recentemente (não, eu não vi Closer ainda, então não conhecia essa música...) que é bonitinha e consegue me comover do mesmo jeito que "Simplesmente Amor" (aquela comédia romântica boboca e tocante).
The Blower's Daughter
(Damien Rice)
And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...
And so it is
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time
And so it is
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...
Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off you
I can't take my mind...
My mind...my mind...
'Til I find somebody new
Wednesday, August 03, 2005
11o. Andar
Estou nu e olho para meu umbigo. Queria entrar ali de novo. Fazer o camelo passar pelo buraco da agulha. Fazer meu corpo entrar em si mesmo. Caber é um verbo difícil de ser conjugado.
Ah, paraíso, eu sabia que não te perderia. Vodcas vagabundas eu compro em qualquer esquina. Um gole quente para mudar essa noite. O último?
O vento assovia nas brechas da porta da varanda. O vendedor! O vendedor de ilusões está me chamando!
- Oi? Quais são os sabores de hoje?
O vento assovia nas brechas.
- Responde, responde, responde!
O vento assovia.
- Eu quero uma ilusão pra mim!
Ergo minha amada. Natasha, querida, vodca vagabunda, amante sempre fiel, ao alcance eterno do meu dinheiro, me beije, me beije agora.
Vai, vagabunda, me abandona. Me abandona como todas fazem. Me abandona e não volta mais. Pula dessa janela do décimo primeiro andar e acaba com a vida de mais um quando cair na calçada.
Não! Não faz isso...Eu...Eu não queria...ter feito isso...Desculpa. Desculpa, amor. Desculpa? Desculpa pra quê? Agora...agora você tá aí, quebrada. O teu sangue fino, tão fino, transparente, escorrendo pelo piso. Natasha! Natasha! Fala comigo! Você não pode morrer sem me amar uma última vez!
- É aqui que a vida chega ao fim. Décimo primeiro andar. Vida, aqui vou eu!
Ah, paraíso, eu sabia que não te perderia. Vodcas vagabundas eu compro em qualquer esquina. Um gole quente para mudar essa noite. O último?
O vento assovia nas brechas da porta da varanda. O vendedor! O vendedor de ilusões está me chamando!
- Oi? Quais são os sabores de hoje?
O vento assovia nas brechas.
- Responde, responde, responde!
O vento assovia.
- Eu quero uma ilusão pra mim!
Ergo minha amada. Natasha, querida, vodca vagabunda, amante sempre fiel, ao alcance eterno do meu dinheiro, me beije, me beije agora.
Vai, vagabunda, me abandona. Me abandona como todas fazem. Me abandona e não volta mais. Pula dessa janela do décimo primeiro andar e acaba com a vida de mais um quando cair na calçada.
Não! Não faz isso...Eu...Eu não queria...ter feito isso...Desculpa. Desculpa, amor. Desculpa? Desculpa pra quê? Agora...agora você tá aí, quebrada. O teu sangue fino, tão fino, transparente, escorrendo pelo piso. Natasha! Natasha! Fala comigo! Você não pode morrer sem me amar uma última vez!
- É aqui que a vida chega ao fim. Décimo primeiro andar. Vida, aqui vou eu!
Sunday, July 31, 2005
In Danger
É noite. Tá na hora de entrar em ação.
Sozinho, Danger entra o bar. Está fervendo cigarro, cerveja e conversa. Ele não é um estranho ali, muitos o cumprimentam. As mulheres em especial.
- Hey, sweetie!
- Ta é bonito hoje, hem?
- Oi, cara! Sozinho ainda?
Home está numa mesa fodendo a cabeça de mais um desavisado. Não tô afim de falar com ela. Maldita Home. Eu adoro essa filha-da-puta.
O Bunker é meu tipo de lugar. You wanna go where everybody knows your name. Algo assim, menos americano, menos certinho. Traz uma sensação boa no estômago.
- Garoto, uma vodca com gelo!
Sento no bar e espero Garoto trazer minha bebida. É um velho amigo. E sempre o cumprimento com a mesma frase.
- E aí, cadê o Despair?
- Daqui a pouco deve aparecer por aí.
Tiro um cigarro da carteira, vamos começar. Mas, antes que eu ache o isqueiro, meus olhos têm que se levantar para olhar quem está me dando fogo. É um chute no saco. Um chute no saco, um soco no nariz, costelas quebradas, pulmões sem ar. Porra, é A Bruxa.
- Vai tomar no cú.
- Oi, Danger. Também fico feliz em revê-lo.
- Vai tomar no cú, porra.
Aquele corpo escultural, aquela pele, o perfume. Um sonho encarnado. Na verdade, o mais cruel dos pesadelos encarnado na pele de uma deusa. Nunca irrite uma deusa. Eu já irritei. Foi difícil, mas eu irritei. Hehehe.
- Você sabe que não faço nada sem motivo. Não vai perguntar por que tô aqui falando com você?
- Eu já disse. VAI TOMAR NO CÚ, PORRA!
- Tá, eu vou fingir que você perguntou. Eu quero algo de você.
Filha-da-puta. Eu sei o que ela vai fazer. Eu sei o que ela vai pedir. Eu sei por que ela vai pedir. Ela vai pedir só pra mostrar pra si mesma, pros outros, pra mim, que ela é forte. Vai mostrar quem manda. Vai marcar território. Vai acordar amanhã feliz e saltitante como uma criança indo pro circo. Foda-se. A Bruxa sempre ganha.
- Eu quero você. Na minha cama. Hoje.
Porra, é A Bruxa. É a mulher que eu amo. É o maldito pesadelo que sempre assombra minhas noites. Minha ball and chain. Meu fardo, a cruz que só eu tenho a coragem idiota de carregar. Sempre me prende numa ilusão que ela criou especialmente para mim. Ela vai sempre me foder. Eu vou sempre querer fodê-la. Eu amo A Bruxa.
- Vamo embora, filha-da-puta.
Sozinho, Danger entra o bar. Está fervendo cigarro, cerveja e conversa. Ele não é um estranho ali, muitos o cumprimentam. As mulheres em especial.
- Hey, sweetie!
- Ta é bonito hoje, hem?
- Oi, cara! Sozinho ainda?
Home está numa mesa fodendo a cabeça de mais um desavisado. Não tô afim de falar com ela. Maldita Home. Eu adoro essa filha-da-puta.
O Bunker é meu tipo de lugar. You wanna go where everybody knows your name. Algo assim, menos americano, menos certinho. Traz uma sensação boa no estômago.
- Garoto, uma vodca com gelo!
Sento no bar e espero Garoto trazer minha bebida. É um velho amigo. E sempre o cumprimento com a mesma frase.
- E aí, cadê o Despair?
- Daqui a pouco deve aparecer por aí.
Tiro um cigarro da carteira, vamos começar. Mas, antes que eu ache o isqueiro, meus olhos têm que se levantar para olhar quem está me dando fogo. É um chute no saco. Um chute no saco, um soco no nariz, costelas quebradas, pulmões sem ar. Porra, é A Bruxa.
- Vai tomar no cú.
- Oi, Danger. Também fico feliz em revê-lo.
- Vai tomar no cú, porra.
Aquele corpo escultural, aquela pele, o perfume. Um sonho encarnado. Na verdade, o mais cruel dos pesadelos encarnado na pele de uma deusa. Nunca irrite uma deusa. Eu já irritei. Foi difícil, mas eu irritei. Hehehe.
- Você sabe que não faço nada sem motivo. Não vai perguntar por que tô aqui falando com você?
- Eu já disse. VAI TOMAR NO CÚ, PORRA!
- Tá, eu vou fingir que você perguntou. Eu quero algo de você.
Filha-da-puta. Eu sei o que ela vai fazer. Eu sei o que ela vai pedir. Eu sei por que ela vai pedir. Ela vai pedir só pra mostrar pra si mesma, pros outros, pra mim, que ela é forte. Vai mostrar quem manda. Vai marcar território. Vai acordar amanhã feliz e saltitante como uma criança indo pro circo. Foda-se. A Bruxa sempre ganha.
- Eu quero você. Na minha cama. Hoje.
Porra, é A Bruxa. É a mulher que eu amo. É o maldito pesadelo que sempre assombra minhas noites. Minha ball and chain. Meu fardo, a cruz que só eu tenho a coragem idiota de carregar. Sempre me prende numa ilusão que ela criou especialmente para mim. Ela vai sempre me foder. Eu vou sempre querer fodê-la. Eu amo A Bruxa.
- Vamo embora, filha-da-puta.
Friday, July 29, 2005
Já Crepúsculo
Isso nunca aconteceu.
O banco era mais um bloco de cimento pintado de branco. Servia. Sentou, o rio corria negro. Não havia porque ser outra cor. Reflexos de prata e ouro, luzes, há riquezas na escuridão.
Esperava? Não se sabe. Sentado, a cabeça voltava-se para cima de vez em quando, olhava o espelho do rio no céu. Onde estaria sua imagem, em que estrela se veria? A penumbra tem o tom do cansaço. Queria respirar um ar mais puro.
Acendeu o cigarro. O amargo da fumaça acaricia a garganta. Ele sempre estava esperando, só esperando. Dar um passo sempre foi cair no abismo.
Camuflada nos meus pensamentos, envolta nos disfarces da noite, não percebi. Sentou-se ao meu lado. Era ela que eu esperava?
Era ela a quem eu queria falar. Virei, afinal, meu olhar. Ouro e prata estavam na pele dela. O rio... Eu sempre estou enxergando o mesmo. Não falei. Não quis atrapalhar um milagre: ela tomou a iniciativa.
- Desculpe.
- Eu te desculpo. Não desculpo a vida.
Desencontros. Você corre, deslumbrado, deslumbrante, rompendo-se de alegria para abraçar a tão esperada, o tão esperado (re)encontro. Mas nunca é a pessoa certa que você abraça. É um estranho que te olha com a cara fechada. Só sobram os pedaços de você que caíram no caminho.
- Odeio desencontros.
Danger abriu a mão, uma borboleta amarela voou em direção a outra margem.
- ser o que seria:
já crepúsculo mal
começa o dia?
Mas isso nunca aconteceu.
O banco era mais um bloco de cimento pintado de branco. Servia. Sentou, o rio corria negro. Não havia porque ser outra cor. Reflexos de prata e ouro, luzes, há riquezas na escuridão.
Esperava? Não se sabe. Sentado, a cabeça voltava-se para cima de vez em quando, olhava o espelho do rio no céu. Onde estaria sua imagem, em que estrela se veria? A penumbra tem o tom do cansaço. Queria respirar um ar mais puro.
Acendeu o cigarro. O amargo da fumaça acaricia a garganta. Ele sempre estava esperando, só esperando. Dar um passo sempre foi cair no abismo.
Camuflada nos meus pensamentos, envolta nos disfarces da noite, não percebi. Sentou-se ao meu lado. Era ela que eu esperava?
Era ela a quem eu queria falar. Virei, afinal, meu olhar. Ouro e prata estavam na pele dela. O rio... Eu sempre estou enxergando o mesmo. Não falei. Não quis atrapalhar um milagre: ela tomou a iniciativa.
- Desculpe.
- Eu te desculpo. Não desculpo a vida.
Desencontros. Você corre, deslumbrado, deslumbrante, rompendo-se de alegria para abraçar a tão esperada, o tão esperado (re)encontro. Mas nunca é a pessoa certa que você abraça. É um estranho que te olha com a cara fechada. Só sobram os pedaços de você que caíram no caminho.
- Odeio desencontros.
Danger abriu a mão, uma borboleta amarela voou em direção a outra margem.
- ser o que seria:
já crepúsculo mal
começa o dia?
Mas isso nunca aconteceu.
Thursday, July 28, 2005
Café Milagre
Quando pequeno (e quando adolescente também, por que não?), eu não tomava café. Achava quente demais, escuro demais, amargo demais. E como eu era extremamente chato com comidas e bebidas quando pequeno, era mais um liquído pra lista dos que eu olhava e dizia:
- Eca!
Enfim, eu não gostava de café. Até, que certa vez, mais crescidinho (nossa, até parece que eu sou um cara vivido...) viajei para um encontro de estudantes de Letras em São Carlos, interior de São Paulo. Para quem estava acostumado com o calor do Nordeste brasileito, nosso friozinho ameno dos meses chuvosos, aquela foi uma experiência pra lá de fria. Tive que comprar luvas, ficava com um moleton por baixo do jeans, casaco, blusa, duas meias, tudo que pudesse usar pra me aquecer. Foi aí que, pela primeira vez, fui apresentado aos poderes revitalizantes do café!
Ah, o café....
Naquele tempo frio como a desgraça (cheguei ao meu recorde de 9 graus celsius), o café e o chocolate quente eram meus melhores amigos. Mas o café tinha aquele gostinho de amor novo, recém descoberto, sem mágoa, sem desgaste, uma delícia.
Quando voltei para Aracaju e contei para minha mãe sobre minha nova paixão, ela ficou mais entusiasmada do que eu. Sempre que podia, no começo da noite, me chamava para com ela saborear um café, um pão quentinho com manteiga e uma conversa bem leve. Mas eu descuidei, esqueci as lições que a raposa ensina, não fui responsável com aquilo que cativei, e meu affair com o café logo foi relegado ao esquecimento.
Até que ontem, em meio a uma reunião informal de trabalho, no ateliê de Milton, o professor de artes, me foi oferecida, no mesmo horário que minha mãe costumava me chamar, aquela velha paixão há muito guardada no Armário das Coisas Esquecidas. Meu receio me segurou um pouco, coloquei apenas meia xícara, estava com medo dessa experiência de reencontro. Mas foi maravilhoso, e apenas a presença daquelas pessoas que tão pouco compartilham da minha intimidade me impediu de repetir a dose tomada.
Ah, mas o destino tem suas brincadeiras. Quando acordo hoje, cedo, para, ainda em férias, começar a corrigir algumas redações que tinha que entregar às 9:00, quem encontro ao, inocente como eu só, descer as escadas em busca de um pouco de água? A minha querida, minha reencontrada, minha "Eros & Psiquê", meu amor. Ela me seguiu até em casa, e parece que agora não vai mais me deixar. Tomei uma xícara bem tomada, mas só uma, para não queimar rápido esse amor. Estou feliz, elétrico, contente, pleno, disposto, tudo que não despertava em mim há algum tempo. O sol brilha lindo como ele só porque tomei café.
Sim, eu estou apaixonado pelo café!
- Eca!
Enfim, eu não gostava de café. Até, que certa vez, mais crescidinho (nossa, até parece que eu sou um cara vivido...) viajei para um encontro de estudantes de Letras em São Carlos, interior de São Paulo. Para quem estava acostumado com o calor do Nordeste brasileito, nosso friozinho ameno dos meses chuvosos, aquela foi uma experiência pra lá de fria. Tive que comprar luvas, ficava com um moleton por baixo do jeans, casaco, blusa, duas meias, tudo que pudesse usar pra me aquecer. Foi aí que, pela primeira vez, fui apresentado aos poderes revitalizantes do café!
Ah, o café....
Naquele tempo frio como a desgraça (cheguei ao meu recorde de 9 graus celsius), o café e o chocolate quente eram meus melhores amigos. Mas o café tinha aquele gostinho de amor novo, recém descoberto, sem mágoa, sem desgaste, uma delícia.
Quando voltei para Aracaju e contei para minha mãe sobre minha nova paixão, ela ficou mais entusiasmada do que eu. Sempre que podia, no começo da noite, me chamava para com ela saborear um café, um pão quentinho com manteiga e uma conversa bem leve. Mas eu descuidei, esqueci as lições que a raposa ensina, não fui responsável com aquilo que cativei, e meu affair com o café logo foi relegado ao esquecimento.
Até que ontem, em meio a uma reunião informal de trabalho, no ateliê de Milton, o professor de artes, me foi oferecida, no mesmo horário que minha mãe costumava me chamar, aquela velha paixão há muito guardada no Armário das Coisas Esquecidas. Meu receio me segurou um pouco, coloquei apenas meia xícara, estava com medo dessa experiência de reencontro. Mas foi maravilhoso, e apenas a presença daquelas pessoas que tão pouco compartilham da minha intimidade me impediu de repetir a dose tomada.
Ah, mas o destino tem suas brincadeiras. Quando acordo hoje, cedo, para, ainda em férias, começar a corrigir algumas redações que tinha que entregar às 9:00, quem encontro ao, inocente como eu só, descer as escadas em busca de um pouco de água? A minha querida, minha reencontrada, minha "Eros & Psiquê", meu amor. Ela me seguiu até em casa, e parece que agora não vai mais me deixar. Tomei uma xícara bem tomada, mas só uma, para não queimar rápido esse amor. Estou feliz, elétrico, contente, pleno, disposto, tudo que não despertava em mim há algum tempo. O sol brilha lindo como ele só porque tomei café.
Sim, eu estou apaixonado pelo café!
Sunday, July 24, 2005
Not the right one
- I'm not the right one.
Sentados frente a frente, Later e Home.
Vodca, gelo e limão num copo. Cigarro incessante na outra. Será que ele nunca se acaba? Cabelos vermelhos cacheados, descendo até a altura dos seios, inclinada para frente, braço esquerdo dobrado sobre as pernas, saia negra, jaqueta jeans aberta, top preto por baixo. Da última vez que tinha visto, por foto, ele jurava que a esfinge tinha um rosto diferente. Baixava os olhos, não era ele o Édipo que iria resolver esse enigma. Não tinha descoberto nem o que era ficar de pé.
Camisa branca abotoada, até em cima, enfiada por dentro de um jeans, cinto de couro preto com fivela prateada, discreta, relógio de pulso, braços cruzados, cabelos negros lisos, pouco crescidos, quase espetados, olheiras. Fixava a água que sua coca-cola recolhida pelo garçom tinha deixado na mesa.
- Eu pensei...eu não sei...achei que nunca mais iria ver você de novo. Aquele dia foi tão rápido, mas tão inten...Eu não sei bem o que aconteceu, eu pensei em você todo esse tempo, aquilo não me saiu da cabeça. E você não me deixou nem seu telefone. Não respondeu nada. Eu...eu...como você me encontrou? Eu...às vezes fico achando que você nem é real...
- I have my secrets.
- Por que você sempre fala em inglês? Você...essa é só a terceira vez que ouço sua voz...Você não é daqui? É americana, inglesa?
- Wrong question.
Esse o movimento que sempre me escapava. A reprodução infinita dos cigarros. Nunca deixa de haver um nas mãos dela. Nunca deixa de haver um isqueiro para acendê-los. Esse o movimento que me escapa.
- Eu não entendo você...Seu nome, seu nome é mesmo Home? É um nome estranho...eu sei que o meu também é. Eu só estou tentando enteder.
- ...
- Como você me achou?
- You have always been where you were. It was easy.
- Por que você continua a fazer isso comigo? Da outra vez, você simplesmente não falava nada. Agora, fala, mas não diz nada. O que é isso, o que é você? O que você espera que eu faça, Home?
Um trago no cigarro e, surpresa, apaga-o antes de terminar, um cigarro que mal tinha fumado, em que mal tinha tocado a boca, a boca de Home, convidativa como um sinal vermelho pede para ser ultrapassado.
- Devora-me ou te decifro.
Sentados frente a frente, Later e Home.
Vodca, gelo e limão num copo. Cigarro incessante na outra. Será que ele nunca se acaba? Cabelos vermelhos cacheados, descendo até a altura dos seios, inclinada para frente, braço esquerdo dobrado sobre as pernas, saia negra, jaqueta jeans aberta, top preto por baixo. Da última vez que tinha visto, por foto, ele jurava que a esfinge tinha um rosto diferente. Baixava os olhos, não era ele o Édipo que iria resolver esse enigma. Não tinha descoberto nem o que era ficar de pé.
Camisa branca abotoada, até em cima, enfiada por dentro de um jeans, cinto de couro preto com fivela prateada, discreta, relógio de pulso, braços cruzados, cabelos negros lisos, pouco crescidos, quase espetados, olheiras. Fixava a água que sua coca-cola recolhida pelo garçom tinha deixado na mesa.
- Eu pensei...eu não sei...achei que nunca mais iria ver você de novo. Aquele dia foi tão rápido, mas tão inten...Eu não sei bem o que aconteceu, eu pensei em você todo esse tempo, aquilo não me saiu da cabeça. E você não me deixou nem seu telefone. Não respondeu nada. Eu...eu...como você me encontrou? Eu...às vezes fico achando que você nem é real...
- I have my secrets.
- Por que você sempre fala em inglês? Você...essa é só a terceira vez que ouço sua voz...Você não é daqui? É americana, inglesa?
- Wrong question.
Esse o movimento que sempre me escapava. A reprodução infinita dos cigarros. Nunca deixa de haver um nas mãos dela. Nunca deixa de haver um isqueiro para acendê-los. Esse o movimento que me escapa.
- Eu não entendo você...Seu nome, seu nome é mesmo Home? É um nome estranho...eu sei que o meu também é. Eu só estou tentando enteder.
- ...
- Como você me achou?
- You have always been where you were. It was easy.
- Por que você continua a fazer isso comigo? Da outra vez, você simplesmente não falava nada. Agora, fala, mas não diz nada. O que é isso, o que é você? O que você espera que eu faça, Home?
Um trago no cigarro e, surpresa, apaga-o antes de terminar, um cigarro que mal tinha fumado, em que mal tinha tocado a boca, a boca de Home, convidativa como um sinal vermelho pede para ser ultrapassado.
- Devora-me ou te decifro.
Tuesday, July 19, 2005
Meu blog, meu cosmo
Estou muito empolgado com os personagens que estão surgindo dos textos desse blog. São meus próprios deuses, meus próprios mitos, meus instrumentos. Mas, ao mesmo tempo, eles começam a ganhar vida própria e, pedaços de minha personalidade que são, começam a ganhar vida sem que eu nem mesmo perceba. Fogem de mim e eu não estou nem um pouco preocupado em segurá-los.
Danger, de "Cheiro de vinagre", é o mais novo integrante e já ganhou minha preferência. Tenho certeza que ainda vou escrever muito sobre ele. Fumante, motorizado, letrado, com um ar de cafajeste infantil, tem um tom urbano que gostei bastante.
O par Home e Later já apareceu em duas histórias, "Read This" e "O céu visto à noite". Sobre eles paira sempre um ar de mistério e surrealismo. As histórias estão bem distanciadas temporalmente e ainda há muitoo que escrever sobre eles. O próximo texto será mais um sobre os dois. Later é instigante, a superação da normalidade perpetrada por ele e sua transformação num corpo-universo me fascinam (e, como ficcionista, intrigam, já que vou ter que falar sobre isso). Home é a mulher-esfinge por excelência. Imagino-a como uma femme fattale menos exuberante e mais realista.
Por último, resta ainda Mr. Despair, que apareceu num dos meus primeiros contos "Onde Andará Mr. Despair". Esse ainda é um grande enigma pra mim, mas já estou começando a pensar em outra história com ele. Já percebi que vou ter que criar um personagem pra encarnar o narrador do conto em que ele aparece a primeira vez. Isso também está sendo formulado.
Existem vários ganchos de personagem a serem explorados. Os contos "Dormir no sofá" e "Goodbye kiss" são dois que podem gerar algo. Ou não!
É muito bom ter um cosmo para brincar de Deus!
Danger, de "Cheiro de vinagre", é o mais novo integrante e já ganhou minha preferência. Tenho certeza que ainda vou escrever muito sobre ele. Fumante, motorizado, letrado, com um ar de cafajeste infantil, tem um tom urbano que gostei bastante.
O par Home e Later já apareceu em duas histórias, "Read This" e "O céu visto à noite". Sobre eles paira sempre um ar de mistério e surrealismo. As histórias estão bem distanciadas temporalmente e ainda há muitoo que escrever sobre eles. O próximo texto será mais um sobre os dois. Later é instigante, a superação da normalidade perpetrada por ele e sua transformação num corpo-universo me fascinam (e, como ficcionista, intrigam, já que vou ter que falar sobre isso). Home é a mulher-esfinge por excelência. Imagino-a como uma femme fattale menos exuberante e mais realista.
Por último, resta ainda Mr. Despair, que apareceu num dos meus primeiros contos "Onde Andará Mr. Despair". Esse ainda é um grande enigma pra mim, mas já estou começando a pensar em outra história com ele. Já percebi que vou ter que criar um personagem pra encarnar o narrador do conto em que ele aparece a primeira vez. Isso também está sendo formulado.
Existem vários ganchos de personagem a serem explorados. Os contos "Dormir no sofá" e "Goodbye kiss" são dois que podem gerar algo. Ou não!
É muito bom ter um cosmo para brincar de Deus!
Sunday, July 17, 2005
Cheiro de vinagre
Dirigia. E recordava.
Ali do seu lado, olhos fixos à frente, já havia um minuto que ela não falava nada. Um minuto...O que devia ele fazer? Qual recurso utilizar para converter aquele momento de inexatidão em algo palpável? Piada infame, comentário banal, charme de segunda mão? O que fazer agora que, empedrada depois de uma dieta de coices e cuspes, sua barriga novamente sentia frio?
Ah, Danger, você se enxerga demais. Cada momento uma sala dos espelhos. E o que acaba sempre restando pra você são ilusões que sua prórpria mente cria.
- Esse carro tem um cheiro estranho!
É a fumaça negra que sai da minha cabeça. É a imensidão de vermes que comem meu corpo. É a praga da Bruxa fazendo efeito. É o destino anunciado pelo oráculo se aproximando. É o tempo correndo célere e comendo meus pés.
- É vinagre.
Paro o carro. Acendo um cigarro e olho pro assento vazio. Imagino os contornos dela como o esboço de um desenho. Aquilo melando o céu de azul e amarelo é a madruguda. Posso ter certeza disso. Penso em Leminski:
Amar é um elo
entre o azul
e o amarelo
Minhas certezas se confundem como cores misturadas numa paleta. Meu braço se apoia na janelo do carro acenando para os corajosos que madrugam comigo nas pistas. Acabo o cigarro na metade e dou partida no carro. Está na hora de esquecer.
Ali do seu lado, olhos fixos à frente, já havia um minuto que ela não falava nada. Um minuto...O que devia ele fazer? Qual recurso utilizar para converter aquele momento de inexatidão em algo palpável? Piada infame, comentário banal, charme de segunda mão? O que fazer agora que, empedrada depois de uma dieta de coices e cuspes, sua barriga novamente sentia frio?
Ah, Danger, você se enxerga demais. Cada momento uma sala dos espelhos. E o que acaba sempre restando pra você são ilusões que sua prórpria mente cria.
- Esse carro tem um cheiro estranho!
É a fumaça negra que sai da minha cabeça. É a imensidão de vermes que comem meu corpo. É a praga da Bruxa fazendo efeito. É o destino anunciado pelo oráculo se aproximando. É o tempo correndo célere e comendo meus pés.
- É vinagre.
Paro o carro. Acendo um cigarro e olho pro assento vazio. Imagino os contornos dela como o esboço de um desenho. Aquilo melando o céu de azul e amarelo é a madruguda. Posso ter certeza disso. Penso em Leminski:
Amar é um elo
entre o azul
e o amarelo
Minhas certezas se confundem como cores misturadas numa paleta. Meu braço se apoia na janelo do carro acenando para os corajosos que madrugam comigo nas pistas. Acabo o cigarro na metade e dou partida no carro. Está na hora de esquecer.
Friday, July 15, 2005
Get Stoned
Everybody must get stoned
(Bob Dylan)
Well, they'll stone ya when you're trying to be so good,
They'll stone ya just a-like they said they would.
They'll stone ya when you're tryin' to go home.
Then they'll stone ya when you're there all alone.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
Well, they'll stone ya when you're walkin' 'long the street.
They'll stone ya when you're tryin' to keep your seat.
They'll stone ya when you're walkin' on the floor.
They'll stone ya when you're walkin' to the door.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
They'll stone ya when you're at the breakfast table.
They'll stone ya when you are young and able.
They'll stone ya when you're tryin' to make a buck.
They'll stone ya and then they'll say, "good luck."
Tell ya what, I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
Well, they'll stone you and say that it's the end.
Then they'll stone you and then they'll come back again.
They'll stone you when you're riding in your car.
They'll stone you when you're playing your guitar.
Yes, but I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
Well, they'll stone you when you walk all alone.
They'll stone you when you are walking home.
They'll stone you and then say you are brave.
They'll stone you when you are set down in your grave.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
Uma boa música para essa fase da minha vida.
(Bob Dylan)
Well, they'll stone ya when you're trying to be so good,
They'll stone ya just a-like they said they would.
They'll stone ya when you're tryin' to go home.
Then they'll stone ya when you're there all alone.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
Well, they'll stone ya when you're walkin' 'long the street.
They'll stone ya when you're tryin' to keep your seat.
They'll stone ya when you're walkin' on the floor.
They'll stone ya when you're walkin' to the door.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
They'll stone ya when you're at the breakfast table.
They'll stone ya when you are young and able.
They'll stone ya when you're tryin' to make a buck.
They'll stone ya and then they'll say, "good luck."
Tell ya what, I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
Well, they'll stone you and say that it's the end.
Then they'll stone you and then they'll come back again.
They'll stone you when you're riding in your car.
They'll stone you when you're playing your guitar.
Yes, but I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
Well, they'll stone you when you walk all alone.
They'll stone you when you are walking home.
They'll stone you and then say you are brave.
They'll stone you when you are set down in your grave.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned.
Uma boa música para essa fase da minha vida.
Thursday, July 14, 2005
O céu visto à noite
O caminho inicia-se adornado de pequenas pedrinhas (pontiagudas algumas) que incomodam os pés descalços daquele que aí anda pela primeira vez. Há arbustos ao redor, mas o início do quebra-mar é pedra por dentro e areia por fora, inverso do seu prosseguimento.
Um homem, vestindo um longo sobretudo marrom, começa o caminho, pisando receoso nas pedras, como um ladrão num assoalho. O vento forte e frio da praia amacia seus finos cabelos negros. Suas mãos estão nos bolsos do sobretudo fechado.
O caminho continua e sua configuração muda. As pedras do quebra-mar projetam-se do lado direito, deixando embaixo a areia molhada de lagoinhas formadas pelo mar. A areia vem comendo as pedras pelo outro, ficando no mesmo nível da passagem, marcando os pés de nosso homem com finos grãos. Vento e areia, juntos, cortam fina e delicadamente a pele dele.
É um primeiro encontro e ele se dirige ao fim do quebra-mar, onde está não um farol, como haveria nas boas histórias, mas apenas um bloco de concreto com um sinalizador vermelho. É dia, o sinalizador de nada adiante para ele. Apenas para barcos desavisados que se aproximam perigosamente dos rochedos finais do quebra-mar.
O caminho, antes do final, novamente ergue as rochas do seu lado direito, dessa vez sobre o começo de ondas do mar, algumas mesmo jorram água na passagem. Do lado esquerdo, agora existem plantas rastejadoras na areia, que evitam o vento rente ao chão, e grandes rochas, como as do lado direito, enterradas na areia, apenas a parte superior para fora. Em alguns pontos, algumas se amontoam. Formam refúgios para inconcebíveis prazeres, pensa nosso homem.
Ele recebeu seu recado. Após uma curva no caminho, entrada para a parte final de sua pequena jornada, ele avista o sinalizador, o bloco de concreto e, sentada sobre ele, uma mancha vermelha cujos cabelos castanhos o vento quer levar consigo. É Ela.
O final do caminho consiste em rochedos se projetando em ambos os lados sobre o mar. O que era areia fina no meio do caminho novamente se converte em pedra. Dessa vez, em maior quantidade e mais afiadas. Não é mais um ladrão no assoalho que está andando, mas um suicida num campo minado. As pedras estão molhadas, em falso, pode-se escorregar e cair. É preciso saber onde se pisa, e nosso homem não pode voltar os olhos para cima sem perigo de ir ao chão.
Ele finalmente termina seu caminho, perto do bloco de concreto as pedras dão uma trégua, mas o vento dificulta que ele ouça Sua voz. Ainda sim, chega a ele isso:
- Olá, Later. Então você recebeu meu recado.
Sem responder, Later tira as mãos dos bolsos, leva-as à altura do pescoço e começa a desabotoar passo-a-passo o sobretudo. Logo que termina sua ação, com um movimento de ombros e ajuda renovada de suas industriosas mãos, ele retira o sobretudo.
Não é pele o que aparece por baixo. É uma matéria negra, como o espaço, como o céu olhado à noite. E nessa matéria há vários pontos luminosos, estrelas a gotejar a superfície, são tantas como o céu visto à noite. Seus olhos são dois grandes pulsares, ai! se pudessem ser vistos no céu visto à noite. Na altura do coração, um grande buraco negro a consumir tudo, pedra, areia, mar, sinalizador, concreto, estrela, quebra-mar, o céu visto à noite. E de sua boca, único sol dessa constelação, saem alguns raios de luz:
- Mergulhe no infinito do meu corpo.
Um homem, vestindo um longo sobretudo marrom, começa o caminho, pisando receoso nas pedras, como um ladrão num assoalho. O vento forte e frio da praia amacia seus finos cabelos negros. Suas mãos estão nos bolsos do sobretudo fechado.
O caminho continua e sua configuração muda. As pedras do quebra-mar projetam-se do lado direito, deixando embaixo a areia molhada de lagoinhas formadas pelo mar. A areia vem comendo as pedras pelo outro, ficando no mesmo nível da passagem, marcando os pés de nosso homem com finos grãos. Vento e areia, juntos, cortam fina e delicadamente a pele dele.
É um primeiro encontro e ele se dirige ao fim do quebra-mar, onde está não um farol, como haveria nas boas histórias, mas apenas um bloco de concreto com um sinalizador vermelho. É dia, o sinalizador de nada adiante para ele. Apenas para barcos desavisados que se aproximam perigosamente dos rochedos finais do quebra-mar.
O caminho, antes do final, novamente ergue as rochas do seu lado direito, dessa vez sobre o começo de ondas do mar, algumas mesmo jorram água na passagem. Do lado esquerdo, agora existem plantas rastejadoras na areia, que evitam o vento rente ao chão, e grandes rochas, como as do lado direito, enterradas na areia, apenas a parte superior para fora. Em alguns pontos, algumas se amontoam. Formam refúgios para inconcebíveis prazeres, pensa nosso homem.
Ele recebeu seu recado. Após uma curva no caminho, entrada para a parte final de sua pequena jornada, ele avista o sinalizador, o bloco de concreto e, sentada sobre ele, uma mancha vermelha cujos cabelos castanhos o vento quer levar consigo. É Ela.
O final do caminho consiste em rochedos se projetando em ambos os lados sobre o mar. O que era areia fina no meio do caminho novamente se converte em pedra. Dessa vez, em maior quantidade e mais afiadas. Não é mais um ladrão no assoalho que está andando, mas um suicida num campo minado. As pedras estão molhadas, em falso, pode-se escorregar e cair. É preciso saber onde se pisa, e nosso homem não pode voltar os olhos para cima sem perigo de ir ao chão.
Ele finalmente termina seu caminho, perto do bloco de concreto as pedras dão uma trégua, mas o vento dificulta que ele ouça Sua voz. Ainda sim, chega a ele isso:
- Olá, Later. Então você recebeu meu recado.
Sem responder, Later tira as mãos dos bolsos, leva-as à altura do pescoço e começa a desabotoar passo-a-passo o sobretudo. Logo que termina sua ação, com um movimento de ombros e ajuda renovada de suas industriosas mãos, ele retira o sobretudo.
Não é pele o que aparece por baixo. É uma matéria negra, como o espaço, como o céu olhado à noite. E nessa matéria há vários pontos luminosos, estrelas a gotejar a superfície, são tantas como o céu visto à noite. Seus olhos são dois grandes pulsares, ai! se pudessem ser vistos no céu visto à noite. Na altura do coração, um grande buraco negro a consumir tudo, pedra, areia, mar, sinalizador, concreto, estrela, quebra-mar, o céu visto à noite. E de sua boca, único sol dessa constelação, saem alguns raios de luz:
- Mergulhe no infinito do meu corpo.
Saturday, July 09, 2005
Dormir no sofá
Lembro-me do dia em que você me pediu que dormisse no sofá. Você, com aquela sua calma e suave voz, fez esse pedido incomum - para a cultura masculina, geralmente dormir no sofá vem como ordem - numa fria noite em que eu, propositadamente, havia vestido uma calça moleton - apenas.
Lembro-me, lembro-me bem que já há algumas semanas sua mão não tocava meu corpo, seu braço não me enlaçava e sua boca não me beijava (in)decentemente. Ah, mas daquela noite não passaria. Quando fomos para baixo das cobertas, proteger-nos do frio chuvoso do inverno nordestino, encontrei não o aconchego do teu ventre quente, mas a mesma resistência fria que a parede do quarto impunha ao vento. E quando sua esquivança médica - dor de cabeça, costas doloridas, cansaço - percebeu que não seria suficiente, você pôs uma ilusão nos meus olhos, abraçou-me carinhosamente, e, com uma voz felina, fez aquele pedido:
- Amor, eu tô muito cansada e você tá todo irrequieto. Acho melhor você dormir no sofá, não?
Não, não era. Mas resignei-me e, como um marido obediente, fui cumprir o dever de me afastar.
Ah, sofá. Eu não imaginava ainda que você, peça tão usual e relegada a um papel secundário na arquitetura da casa, pudesse ter contornos tão aconchegantes. Meu corpo naquela noite deitou-se no seu como se ali fosse minha casa, meu útero, minha tumba. Suas mãos impossíveis massagearam minhas costas, mexeram nos meus cabelos e Abraçaram-me. Querido sofá, você me acolheu e me recebeu como legítima esposa, finalmente voou a águia presa.
E agora, querida, você vem pedindo meu corpo que já não é seu, meu carinho que gasto em outra amante, meu amor e sexo que você antes rejeitou. Ah, mas agora querida, sua voz felina não vai rasgar mais a pele dos meus desejos. Agora, querida, não é mais com você que eu durmo. Eu durmo com o sofá. Eu quero dormir no sofá.
Lembro-me, lembro-me bem que já há algumas semanas sua mão não tocava meu corpo, seu braço não me enlaçava e sua boca não me beijava (in)decentemente. Ah, mas daquela noite não passaria. Quando fomos para baixo das cobertas, proteger-nos do frio chuvoso do inverno nordestino, encontrei não o aconchego do teu ventre quente, mas a mesma resistência fria que a parede do quarto impunha ao vento. E quando sua esquivança médica - dor de cabeça, costas doloridas, cansaço - percebeu que não seria suficiente, você pôs uma ilusão nos meus olhos, abraçou-me carinhosamente, e, com uma voz felina, fez aquele pedido:
- Amor, eu tô muito cansada e você tá todo irrequieto. Acho melhor você dormir no sofá, não?
Não, não era. Mas resignei-me e, como um marido obediente, fui cumprir o dever de me afastar.
Ah, sofá. Eu não imaginava ainda que você, peça tão usual e relegada a um papel secundário na arquitetura da casa, pudesse ter contornos tão aconchegantes. Meu corpo naquela noite deitou-se no seu como se ali fosse minha casa, meu útero, minha tumba. Suas mãos impossíveis massagearam minhas costas, mexeram nos meus cabelos e Abraçaram-me. Querido sofá, você me acolheu e me recebeu como legítima esposa, finalmente voou a águia presa.
E agora, querida, você vem pedindo meu corpo que já não é seu, meu carinho que gasto em outra amante, meu amor e sexo que você antes rejeitou. Ah, mas agora querida, sua voz felina não vai rasgar mais a pele dos meus desejos. Agora, querida, não é mais com você que eu durmo. Eu durmo com o sofá. Eu quero dormir no sofá.
Nóia
De "Fragmentos de um discurso amoroso", Roland Barthes, que está me servindo de auto-ajuda (eca!) pra melhor compreensão de meus fenômenos internos (nossa, que complicado isso...).
CIÚME. "Sentimento que nasce no amor e que é produzido pelo temor de que a pessoa amada prefira um outro." (Littré)
"4. Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo por sê-lo, porque temo que meu ciúme fira o outro, porque me deixo sujeitar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum."
E quem disse que Gêmeos é um signo que desconhece o ciúme?
CIÚME. "Sentimento que nasce no amor e que é produzido pelo temor de que a pessoa amada prefira um outro." (Littré)
"4. Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo por sê-lo, porque temo que meu ciúme fira o outro, porque me deixo sujeitar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum."
E quem disse que Gêmeos é um signo que desconhece o ciúme?
A fada dos dentes, onde está?
And from the darkness, someone rises:
E se eu tomasse em meus braços esse mundo e o moldasse à minha vontade, ele não seria nem menos injusto nem mais justo, pois minhas mãos são inúteis para refazer aquilo que já está dado, e nada pode ser refeito sem que eu seja refeito, sem que o ato de refazer seja refeito, sem que você seja refeito, sem que o mundo a ser refeito seja refeito. E eu sou continuamente o mesmo.
Será essa a prisão a que estou condenando? Estarei no corredor na morte ou serão essas grades mais uma alucinação? Será essa minha traição ou será que me estão traindo? Onde está o ponto seguro que há pouco me disse:
- Lá está o Norte.
E sempre irei abstinadamente, como um frei herege que não quer se desgarrar de sua fé, acreditar na ilusão (barreira da minha sempre almejada meta) de que um dia, quem sabe um dia, irá levantar-se sem medo um sol que irá expulsar-me todo remorso, temor e amargura. Irá erguer-se um gigante para esmagar todo meu ciúme (do que não tenho), toda minha inveja (que me corrói como ferro velho) e toda minha insensatez (que me leva palavras às mãos que nunca imaginei nas minhas digitais). Acredito no novo como um menino espera que venha a fada dos dentes para passar sua dor.
And to the darkness I walk, without fear, but I regret so many things.
E se eu tomasse em meus braços esse mundo e o moldasse à minha vontade, ele não seria nem menos injusto nem mais justo, pois minhas mãos são inúteis para refazer aquilo que já está dado, e nada pode ser refeito sem que eu seja refeito, sem que o ato de refazer seja refeito, sem que você seja refeito, sem que o mundo a ser refeito seja refeito. E eu sou continuamente o mesmo.
Será essa a prisão a que estou condenando? Estarei no corredor na morte ou serão essas grades mais uma alucinação? Será essa minha traição ou será que me estão traindo? Onde está o ponto seguro que há pouco me disse:
- Lá está o Norte.
E sempre irei abstinadamente, como um frei herege que não quer se desgarrar de sua fé, acreditar na ilusão (barreira da minha sempre almejada meta) de que um dia, quem sabe um dia, irá levantar-se sem medo um sol que irá expulsar-me todo remorso, temor e amargura. Irá erguer-se um gigante para esmagar todo meu ciúme (do que não tenho), toda minha inveja (que me corrói como ferro velho) e toda minha insensatez (que me leva palavras às mãos que nunca imaginei nas minhas digitais). Acredito no novo como um menino espera que venha a fada dos dentes para passar sua dor.
And to the darkness I walk, without fear, but I regret so many things.
Wednesday, July 06, 2005
Read this
- Read this, Later.
Aquela estranha figura que o tinha olhado fixo quando ele acobertou-se no bar, que o tinha chamado a uma mesa, que tinha resistido petreamente, cigarro após cigarro, a suas perguntas sobre os porquês, comos e o quês de tudo aquilo, que o tinha arrancado de sua via comum com um olhar esfíngico, tirando poeira de séculos sobre o verbo seduzir, que tinha em relâmpagos pago a conta e se levantado, num flash, sussurou a frase em seu ouvido e sepultou-lhe na mão um pedaço de papel dobrado.
O que restava sentado sozinho àquela mesa de bar? O mesmo homem que cinco minutos atrás procurara um teto para fugir da chuva? O mesmo homem recém-saído do trabalho a caminho da solidão de um apartamento? O mesmo homem de vida regrada e monótona, sem glória alguma para orgulhar-se, sem graça alguma para regozijar-se? O mesmo homem que tanto deixara pra trás em nome de algo que até o nome lhe escapava agora? O que havia àquela mesa, sentado naquela cadeira, era um resto, nem corpo, havia ali só o oco silêncio.
Mas, como o nascimento da primeira estrela, surgia naquele cemitério de sons um eco, o Primeiro Eco. Começou na testa, entre as sobrancelhas, que se ergueram, altura do terceiro olho, desceu pescoço, dobrou no ombro esquerdo, cambalhotou pelo braço, bateu na mão e abriu um dedo. Começou a desdobrar o papel. Numa foto preto-e-branco daquele enigma havia escrito em letras vermelhas:
- Just call me Home.
Aquela estranha figura que o tinha olhado fixo quando ele acobertou-se no bar, que o tinha chamado a uma mesa, que tinha resistido petreamente, cigarro após cigarro, a suas perguntas sobre os porquês, comos e o quês de tudo aquilo, que o tinha arrancado de sua via comum com um olhar esfíngico, tirando poeira de séculos sobre o verbo seduzir, que tinha em relâmpagos pago a conta e se levantado, num flash, sussurou a frase em seu ouvido e sepultou-lhe na mão um pedaço de papel dobrado.
O que restava sentado sozinho àquela mesa de bar? O mesmo homem que cinco minutos atrás procurara um teto para fugir da chuva? O mesmo homem recém-saído do trabalho a caminho da solidão de um apartamento? O mesmo homem de vida regrada e monótona, sem glória alguma para orgulhar-se, sem graça alguma para regozijar-se? O mesmo homem que tanto deixara pra trás em nome de algo que até o nome lhe escapava agora? O que havia àquela mesa, sentado naquela cadeira, era um resto, nem corpo, havia ali só o oco silêncio.
Mas, como o nascimento da primeira estrela, surgia naquele cemitério de sons um eco, o Primeiro Eco. Começou na testa, entre as sobrancelhas, que se ergueram, altura do terceiro olho, desceu pescoço, dobrou no ombro esquerdo, cambalhotou pelo braço, bateu na mão e abriu um dedo. Começou a desdobrar o papel. Numa foto preto-e-branco daquele enigma havia escrito em letras vermelhas:
- Just call me Home.
Monday, July 04, 2005
Esse jardim
"Estava lá Aquiles, que abraçava
Enfim Heitor, secreto personagem
Do sonho que na tenda o torturava;
Estava lá Saul, tendo por pajem
Davi, que ao som da cítara cantava;
E estavam lá seteiros, que pensavam
Sebastião e as chagas que o mataram.
Nesse jardim, quantos as mãos deixavam
Levar aos lábios que os atraiçoaram!
Era a cidade exata, aberta, clara:
Estava lá o arcanjo incendiado
Sentado ao pés de quem desafiara;
E estava lá um deus crucificado
Beijando uma vez mais o enforcado."
(Mário Faustino)
Onde ficará o jardim das reconciliações impossíveis, dos perdões impedidos? Será um jardim onde toda culpa aflora ou resseca? Vingança dos vencidos ou comunhão dos vencedores?
Enfim Heitor, secreto personagem
Do sonho que na tenda o torturava;
Estava lá Saul, tendo por pajem
Davi, que ao som da cítara cantava;
E estavam lá seteiros, que pensavam
Sebastião e as chagas que o mataram.
Nesse jardim, quantos as mãos deixavam
Levar aos lábios que os atraiçoaram!
Era a cidade exata, aberta, clara:
Estava lá o arcanjo incendiado
Sentado ao pés de quem desafiara;
E estava lá um deus crucificado
Beijando uma vez mais o enforcado."
(Mário Faustino)
Onde ficará o jardim das reconciliações impossíveis, dos perdões impedidos? Será um jardim onde toda culpa aflora ou resseca? Vingança dos vencidos ou comunhão dos vencedores?
Sunday, July 03, 2005
Goodbye kiss
Há um túnel escuro à minha frente, e, nesse túnel, quatro portas. À esquerda, logo no início, uma, aberta, ignoro-a. À direita, duas mais: a primeira, aberta também, de onde sai uma luz azul, como a de uma televisão ligada; a segunda está fechada; ignoro-as. Ao fim, uma outra, entreaberta. Não é possível divisar o que ela faz presente, mas eu pressinto. SEI que ali está.
Dou o primeiro passo, o que se chama Receio. Dou o segundo passo, o que se chama Insegurança. Dou o terceiro passo, o que se chama Medo. Dou o quarto passo, o que se chama Ansiedade. Dou o quinto passo, o que se chama Desespero. E chego.
Empurro a porta e a escuridão é rachada pelas luzes que a cidade joga noite afora. Está lá, sim, Ela está lá. Os rasgos da escuridão aparecem contornos. Dorme. De costas para mim, de lado, pernas juntas e levemente dobradas, mãos juntas. Quase a posição de uma penitente, mas essa metáfora a realidade se encarrega de desfazer.
É preciso dar mais um passo e eu sei que ele é o da Solidão. Aproximo-me, curvo-me. Ah, o calor desse corpo...Beijo-lhe, levemente, a face que está exposta. Ergo-me e faço o caminho para fora do túnel.
Comentário: Menos simbólico e mais impreciso do que parece.
Dou o primeiro passo, o que se chama Receio. Dou o segundo passo, o que se chama Insegurança. Dou o terceiro passo, o que se chama Medo. Dou o quarto passo, o que se chama Ansiedade. Dou o quinto passo, o que se chama Desespero. E chego.
Empurro a porta e a escuridão é rachada pelas luzes que a cidade joga noite afora. Está lá, sim, Ela está lá. Os rasgos da escuridão aparecem contornos. Dorme. De costas para mim, de lado, pernas juntas e levemente dobradas, mãos juntas. Quase a posição de uma penitente, mas essa metáfora a realidade se encarrega de desfazer.
É preciso dar mais um passo e eu sei que ele é o da Solidão. Aproximo-me, curvo-me. Ah, o calor desse corpo...Beijo-lhe, levemente, a face que está exposta. Ergo-me e faço o caminho para fora do túnel.
Comentário: Menos simbólico e mais impreciso do que parece.
Friday, July 01, 2005
Poema de Amor
Ao conversar com uma amiga com que há muito tempo não conversava, entendida ela também nas artes da palavra (a maga Cibele), lembrei-me de um poeta americano que também há alguns poucos anos atrás era fixação minha: e.e.cummings (o nome dele se escreve assim em minúscula, mesmo, preferências dele). E lembrei-me do poema que mo apresentou (rará! Usei uma construção correta e arcaica do português! Juntei os pronomes me e o e formei mo!). Esse é um dos poemas de amor mais belos que já li, tanto a tradução de Augusto de Campos como o original em inglês. Zeca Baleiro o gravou e deu o nome de "Nalgum lugar", palavras iniciais da tradução. Eu já o recitei ou enviei para duas pessoas, mas, para não desgastar nem parecer repetitivo, eu deixei de usá-lo. Afinal, iria parecer que eu só o uso como uma cantada barata. E não é essa minha relação com a poesia. Enfim, aqui vai o poema. Respeitando meus amigos que não sabem inglês, coloco a bela tradução de Augusto de Campos.
nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
Lindo, não?
nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
Lindo, não?
Wednesday, June 29, 2005
Quanto de cada um
Quanto de cada um se perde, quanto de cada se ganha?
Quando eu te olho e você não, que parte de mim foge e que parte de mim fica? O que meu você ganha, o que meu eu perco?
Quando eu falo, que palavra de mim se perde e que palavra em mim resiste? O que você entende, o que eu intenciono?
Quando meu gesto, folha perdida no vento, alcança a praia da ação, que parte do meu corpo se perde no caminho? Que parte minha se sublima, que parte de mim vira vento?
As almas, afinal, transubstanciam-se? Há, afinal, a metempsicose? Joyce, Bloom, Dedalus, respondam-me tríade de esfinges.
The non-sense of life goes on, doesn't it?
"Pois que no sentir nos volatizamos; ai de nós
que nos exalamos até a exaustão; e de arder em arder
desprendemos aroma cada vez mais fraco. Bem poderia alguém dizer:
Sim, entras no meu sangue, este aposento, a primavera
enchem-se de ti...Mas de que adianta se não nos retém,
se ali sumimos e à sua volta. E aqueles que são belos,
quem os reteria? Ininterruptamente a aparência
surge-lhes na face e vai-se. Como o orvalho da erva matinal,
o que é nosso se desprende de nós, feito o calor de um prato
de comida quente. Oh sorriso, para onde? Oh olhar erguido:
cálida onda nova e efêmera do coração -;
ai de mim: somo isso, pois. O espaço sideral
em que nos dissolvemos, guarda o nosso gosto? Recolhem os Anjos
na verdade apenas o que deles dimanou,
ou às vezes, como que por descuido, um pouco
da nossa essência junto? Estamos acaso misturados de leve
às suas feições como o vago nos rostos
das mulheres prenhes? Eles não o notam no turbilhonar
do regresso a si próprios. (Como iriam notar?)"
Extraído da "Segunda Elegia" de Rainer Maria Rilke, Elegias Duinenses
Quando eu te olho e você não, que parte de mim foge e que parte de mim fica? O que meu você ganha, o que meu eu perco?
Quando eu falo, que palavra de mim se perde e que palavra em mim resiste? O que você entende, o que eu intenciono?
Quando meu gesto, folha perdida no vento, alcança a praia da ação, que parte do meu corpo se perde no caminho? Que parte minha se sublima, que parte de mim vira vento?
As almas, afinal, transubstanciam-se? Há, afinal, a metempsicose? Joyce, Bloom, Dedalus, respondam-me tríade de esfinges.
The non-sense of life goes on, doesn't it?
"Pois que no sentir nos volatizamos; ai de nós
que nos exalamos até a exaustão; e de arder em arder
desprendemos aroma cada vez mais fraco. Bem poderia alguém dizer:
Sim, entras no meu sangue, este aposento, a primavera
enchem-se de ti...Mas de que adianta se não nos retém,
se ali sumimos e à sua volta. E aqueles que são belos,
quem os reteria? Ininterruptamente a aparência
surge-lhes na face e vai-se. Como o orvalho da erva matinal,
o que é nosso se desprende de nós, feito o calor de um prato
de comida quente. Oh sorriso, para onde? Oh olhar erguido:
cálida onda nova e efêmera do coração -;
ai de mim: somo isso, pois. O espaço sideral
em que nos dissolvemos, guarda o nosso gosto? Recolhem os Anjos
na verdade apenas o que deles dimanou,
ou às vezes, como que por descuido, um pouco
da nossa essência junto? Estamos acaso misturados de leve
às suas feições como o vago nos rostos
das mulheres prenhes? Eles não o notam no turbilhonar
do regresso a si próprios. (Como iriam notar?)"
Extraído da "Segunda Elegia" de Rainer Maria Rilke, Elegias Duinenses
Monday, June 27, 2005
Dia do sol, Dia da lua
Se Sunday é o dia do sol e Monday o dia da lua, como é que minhas segundas sempre me iluminam e meus domingos sempre me escurecem? Parece que depois que a noite me fecha aos domingos, uma alvorada de segunda-feira me abre, ergue e renova. Domingo: inverno. Segunda: Verão.
Ora, bolas, mas não deveria ser a segunda-feira o dia das minhas ressacas, quer sejam físicas, morais ou emocionais? Ora, bolas (adorei essa expressão!), mas é exatamente o contrário disso que acontece. Parece que, assim que começa a madrugada de segunda, minhas forças, físicas, morais e emocioanais, vão se recuperando e ao acordar na manhã eu já sou novamente um homem inteiro (quase...).
Talvez minha segunda-feira não seja um verão, mas sim uma primavera, esperando que o outono da semana venha cair suas folhas.
Talvez não sejam todas as segundas-feiras, talvez seja só essa.
Talvez eu não seja feliz.
Talvez.
Ora, bolas, mas não deveria ser a segunda-feira o dia das minhas ressacas, quer sejam físicas, morais ou emocionais? Ora, bolas (adorei essa expressão!), mas é exatamente o contrário disso que acontece. Parece que, assim que começa a madrugada de segunda, minhas forças, físicas, morais e emocioanais, vão se recuperando e ao acordar na manhã eu já sou novamente um homem inteiro (quase...).
Talvez minha segunda-feira não seja um verão, mas sim uma primavera, esperando que o outono da semana venha cair suas folhas.
Talvez não sejam todas as segundas-feiras, talvez seja só essa.
Talvez eu não seja feliz.
Talvez.
Sunday, June 26, 2005
Gloomy Sundays e Hiatos Criativos
Gloomy Sunday
Sunday is gloomy, the hours are slumberless
Dearest of shadows i live with are numberless
little white flowers will never awaken you
not where the dark coach of sorrow has taken you
angels have no thought of ever returning you
would they be angry if I thought of joining you?
Gloomy Sunday
Gloomy sunday, with shadows I spend it all
My heart and I have decided to end it all
Soon there'll be prayers and candels will be lit, I know
Let them not weap, let them know,that I'm glad to go
Death is a dream, for in death im caressing you
With the last breath of my soul, i'll be blessing you
Gloomy Sunday
Dreaming
I was only dreaming
I awake and I find you asleep and deep in my arms
Dear...Darling, I hope that my dream hasnt haunted you
My heart is telling you how much I wanted you
Gloomy Sunday
its absolutely gloomy sunday
Gloomy Sunday
Sunday
Também conhecida como "suicide song". Possui várias gravações recentes (Billie Holliday, Bjork, se eu não me engano Sinead O'Connor), mas a versão original é húngara. Já foi proibida em vários países pelo número de suicídios que tinham relação com ela. Ótima para embalar minhas depressões de domingo.
Ah, podem ficar calmos, eu não sou suicida.
Observação: os que tem um pouco mais de memória devem lembrar-se da série "Fragmentos de um discurso amoroso". Não, eu não a abandoneio. Só não consegui produzir nada digno de ser publicado aqui ainda...Hiatos criativos...Já repararam como eu estou constantemente postando letras de música? É porque a criatividade se esgotou (preciso renovar meu contrato com o diabo...)
Sunday is gloomy, the hours are slumberless
Dearest of shadows i live with are numberless
little white flowers will never awaken you
not where the dark coach of sorrow has taken you
angels have no thought of ever returning you
would they be angry if I thought of joining you?
Gloomy Sunday
Gloomy sunday, with shadows I spend it all
My heart and I have decided to end it all
Soon there'll be prayers and candels will be lit, I know
Let them not weap, let them know,that I'm glad to go
Death is a dream, for in death im caressing you
With the last breath of my soul, i'll be blessing you
Gloomy Sunday
Dreaming
I was only dreaming
I awake and I find you asleep and deep in my arms
Dear...Darling, I hope that my dream hasnt haunted you
My heart is telling you how much I wanted you
Gloomy Sunday
its absolutely gloomy sunday
Gloomy Sunday
Sunday
Também conhecida como "suicide song". Possui várias gravações recentes (Billie Holliday, Bjork, se eu não me engano Sinead O'Connor), mas a versão original é húngara. Já foi proibida em vários países pelo número de suicídios que tinham relação com ela. Ótima para embalar minhas depressões de domingo.
Ah, podem ficar calmos, eu não sou suicida.
Observação: os que tem um pouco mais de memória devem lembrar-se da série "Fragmentos de um discurso amoroso". Não, eu não a abandoneio. Só não consegui produzir nada digno de ser publicado aqui ainda...Hiatos criativos...Já repararam como eu estou constantemente postando letras de música? É porque a criatividade se esgotou (preciso renovar meu contrato com o diabo...)
Thursday, June 23, 2005
Edson
Prometo e cumpro.
Lá estou eu dançando e me agarrando loucamente com Manuela, quando, de repente, não mais que de repente, vejo uma figura alta, magra, barba mal feita, camisa de botão preta, parada a me olhar: Edson.
Edson é O Homem, O Cara. Vou contar a história de como o conheci e de como me tornei amigo dele.
Eu o conheci através de Andrea, minha ex-namorada, que tinha um grande amigo chamado Anderson. Edson namorava irmã de Anderson, Úrsula, então nós nos víamos de vez em quando. Esse foi meu primeiro contato com ele.
Depois disso, encontrei Edson num contexto completamente diferente. As eleições estudantis para o DCE da Universidade Tiradentes. Lá estava eu na minha época de político dando uma força (muito pequena, é verdade) pro pessoal, quando o vejo como um dos mais engajados participantes da chapa. Já comecei daí a ter um pouco mais de contato com ele.
Tudo seguia na vida como se fôssemos ser apenas mais dois conhecidos que se falam de vez em quando, se cumprimentam na rua, levantam as sobrancelhas pra dizer "oi" e vão embora. Mas a vida tem caminhos engraçados. Estou certo dia no tradicional bar fudido de Aracaju, ponto de encontro da juventude descolada e angustiada dessa pequena cidade, o Big Brother, e, depois de várias cervejas, começo a ter uma conversa super alto-astral com essa figura que é Edson. Conversamos sobre tudo, mas tínhamos em comum uma decepção amorosa. Estávamos os dois em fim de relacionamentos, e o espírito jocoso-melancólico dos dois logo se identificou. Lembro que nesse mesmo dia fomos no carro dele para o mercado tomar café-da-manhã (sim, sim, nós amanhecemos o dia no Big Brother) no mercado central, ainda trocando amarguras sobre nossas mulheres. Fui dormir nesse dia com a sensação de ter ganhado um grande amigo.
E isso se confirmou nos dois meses seguintes. A noite no Oi Beach Bar, o ano novo na Praia do Francês, o boliche com os primos dele (e a maravilhosa e esnobe Natasha, também prima dele), e, principalmente, porque o cara simplesmente foi a conexão para meus dois outros grandes amigos da atualidade: Mingau e Aragão. Esse cara foi crucial na reviravolta que minha vida deu.
Mas o filho-da-puta tinha que ir embora pra Sâo Paulo. Do nada, sem se despedir, no típico estilo Edson de ser, sumindo sem dar satisfação a ninguém. E, eu, com cara de besta, fiquei a jogar pragas na distância, que me tirava de perto mais uma grande amizade.
Mas, então, alguns meses depois, ele me aparece em pleno Forró Caju, recém-chegado de São Paulo. E eu percebo como é bom sentir carinho, intimidade e admiração por um outro cara. É bom saber que se tem um amigo.
Edson, Mingau, Aragão, eu AMO todos vocês.
Lá estou eu dançando e me agarrando loucamente com Manuela, quando, de repente, não mais que de repente, vejo uma figura alta, magra, barba mal feita, camisa de botão preta, parada a me olhar: Edson.
Edson é O Homem, O Cara. Vou contar a história de como o conheci e de como me tornei amigo dele.
Eu o conheci através de Andrea, minha ex-namorada, que tinha um grande amigo chamado Anderson. Edson namorava irmã de Anderson, Úrsula, então nós nos víamos de vez em quando. Esse foi meu primeiro contato com ele.
Depois disso, encontrei Edson num contexto completamente diferente. As eleições estudantis para o DCE da Universidade Tiradentes. Lá estava eu na minha época de político dando uma força (muito pequena, é verdade) pro pessoal, quando o vejo como um dos mais engajados participantes da chapa. Já comecei daí a ter um pouco mais de contato com ele.
Tudo seguia na vida como se fôssemos ser apenas mais dois conhecidos que se falam de vez em quando, se cumprimentam na rua, levantam as sobrancelhas pra dizer "oi" e vão embora. Mas a vida tem caminhos engraçados. Estou certo dia no tradicional bar fudido de Aracaju, ponto de encontro da juventude descolada e angustiada dessa pequena cidade, o Big Brother, e, depois de várias cervejas, começo a ter uma conversa super alto-astral com essa figura que é Edson. Conversamos sobre tudo, mas tínhamos em comum uma decepção amorosa. Estávamos os dois em fim de relacionamentos, e o espírito jocoso-melancólico dos dois logo se identificou. Lembro que nesse mesmo dia fomos no carro dele para o mercado tomar café-da-manhã (sim, sim, nós amanhecemos o dia no Big Brother) no mercado central, ainda trocando amarguras sobre nossas mulheres. Fui dormir nesse dia com a sensação de ter ganhado um grande amigo.
E isso se confirmou nos dois meses seguintes. A noite no Oi Beach Bar, o ano novo na Praia do Francês, o boliche com os primos dele (e a maravilhosa e esnobe Natasha, também prima dele), e, principalmente, porque o cara simplesmente foi a conexão para meus dois outros grandes amigos da atualidade: Mingau e Aragão. Esse cara foi crucial na reviravolta que minha vida deu.
Mas o filho-da-puta tinha que ir embora pra Sâo Paulo. Do nada, sem se despedir, no típico estilo Edson de ser, sumindo sem dar satisfação a ninguém. E, eu, com cara de besta, fiquei a jogar pragas na distância, que me tirava de perto mais uma grande amizade.
Mas, então, alguns meses depois, ele me aparece em pleno Forró Caju, recém-chegado de São Paulo. E eu percebo como é bom sentir carinho, intimidade e admiração por um outro cara. É bom saber que se tem um amigo.
Edson, Mingau, Aragão, eu AMO todos vocês.
Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me
E eis, que pela manhã, The Smiths me revelam o que eu já sabia:
Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me
Last night I dreamt
That somebody loved me
No hope, no harm
Just another false alarm
Last night I felt
Real arms around me
No hope, no harm
Just another false alarm
So, tell me how long
Before the last one ?
And tell me how long
Before the right one ?
The story is old - I know
But it goes on
The story is old - I know
But it goes on
Oh, goes on
And on
Oh, goes on
And on
Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me
Last night I dreamt
That somebody loved me
No hope, no harm
Just another false alarm
Last night I felt
Real arms around me
No hope, no harm
Just another false alarm
So, tell me how long
Before the last one ?
And tell me how long
Before the right one ?
The story is old - I know
But it goes on
The story is old - I know
But it goes on
Oh, goes on
And on
Oh, goes on
And on
Tuesday, June 21, 2005
Terra firme
Estou decidido. Isso é uma raridade na minha vida. Eu sou o tipo de homem que demora, demora, demora, mas um dia chega a uma conclusão. Aí, demora, demora, demora, e age.
- E aí, presta estar decidido?
Presta nada. É uma merda. Em especial ESSA decisão. Eu preferiria mil vezes continuar nesse clima "deixa a vida me levar". Mas não dá não....
Sempre que a gente fala em deixar a vida nos levar, lá vem aquela metáfora mais batida do que o carro do Airton Senna: a vida é como um rio, blablabla...Porra, se essa vida for um rio, eu acho que entrei de canoinha numa daquelas corredeiras loucas, cheias de pedras, cachoeiras, redemoinhos, monstro do lago Ness.
Chega. A canoinha aqui já levou porrada demais dessa vida que não sabe pra onde nos leva. Eu quero é a terra firme.
- E aí, presta estar decidido?
Presta nada. É uma merda. Em especial ESSA decisão. Eu preferiria mil vezes continuar nesse clima "deixa a vida me levar". Mas não dá não....
Sempre que a gente fala em deixar a vida nos levar, lá vem aquela metáfora mais batida do que o carro do Airton Senna: a vida é como um rio, blablabla...Porra, se essa vida for um rio, eu acho que entrei de canoinha numa daquelas corredeiras loucas, cheias de pedras, cachoeiras, redemoinhos, monstro do lago Ness.
Chega. A canoinha aqui já levou porrada demais dessa vida que não sabe pra onde nos leva. Eu quero é a terra firme.
Monday, June 20, 2005
Bom dia
De que são feitos os bons dias? Um acordar preguiçoso, uma luz gentil, um sorriso sincero, um suco de laranja claro como o sol, família feliz ao seu redor, girando e girando num carrossel que só lhe quer feliz. A felicidade é heliocêntrica, é um querer que tudo gire ao seu redor. Minha cachorra me pede uma carona, me espera no banco do carro, "vamos sair juntos?". Amigos me abraçam, me cumprimentem, me felicitam . Como esse verbo anda apagado, um verbo tão bonito e caridoso, esse "felicitar"...
Quando as luzes se apagam, a felicidade mostra que sua face lunar. As bebidas começam a descer pelas gargantas, a música enche o ambiente, um grande amigo me faz companhia:
- Miguel?
- Não, mãe, Mingau.
Gula: comamos e bebamos. Vocês, iniciados nessas artes, fumem. Vamos, vamos todos, a festa não acabou, só mudou de lugar, vamos, vamos todos.
Gente, gente, gente. Geraldo Azevedo acaba celebrando nossa chegada. Vamos, vamos todos beber, dançar, é a quadrilha "Pau no cú" no arraial. Minha voz rouca de batman não vai me abalar ("Do I look like a cop?"). Vamos, Manuela, me beija agora.
Não, não, isso não vai me abalar. Vamos, vamos, vamos dançar, Alice.
São três horas da manhã, promessas são promessas, vamos, vamos, Raphael, Yo, Mingau, Alice.
Vamos, vou dormir, já são quatro da manhã. Obrigado, dia, você foi bom comigo.
Quando as luzes se apagam, a felicidade mostra que sua face lunar. As bebidas começam a descer pelas gargantas, a música enche o ambiente, um grande amigo me faz companhia:
- Miguel?
- Não, mãe, Mingau.
Gula: comamos e bebamos. Vocês, iniciados nessas artes, fumem. Vamos, vamos todos, a festa não acabou, só mudou de lugar, vamos, vamos todos.
Gente, gente, gente. Geraldo Azevedo acaba celebrando nossa chegada. Vamos, vamos todos beber, dançar, é a quadrilha "Pau no cú" no arraial. Minha voz rouca de batman não vai me abalar ("Do I look like a cop?"). Vamos, Manuela, me beija agora.
Não, não, isso não vai me abalar. Vamos, vamos, vamos dançar, Alice.
São três horas da manhã, promessas são promessas, vamos, vamos, Raphael, Yo, Mingau, Alice.
Vamos, vou dormir, já são quatro da manhã. Obrigado, dia, você foi bom comigo.
Saturday, June 18, 2005
Leaving on a jet plane
Esqueçam a circunstância e viajem. É isso. Bem que podia ser isso.
Leaving on a jet plane
(John Denver )
*Interpretada por Bjork e PJ Harvey fica bem melhor
I'm ... I'm ...
All my bags are packed, I'm ready to go
I'm standin' here outside your door
I hate to wake you up to say goodbye
But the dawn is breakin', it's early morn
The taxi's waitin', he's blowin' his horn
Already I'm so lonesome I could die
So kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go
'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go
I'm ...
There's so many times I've let you down
So many times I've played around
I'll tell you now, they don't mean a thing
Every place I go, I think of you
Every song I sing, I sing for you
When I come back I'll wear your wedding ring
So kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go
'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go
Now the time has come to leave you
One more time, oh, let me kiss you
And close your eyes and I'll be on my way
Dream about the days to come
When I won't have to leave alone
About the times that I won't have to say ...
Oh, kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go
'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go
And I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go
But I'm leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
Leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
Leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
....
É isso.
Leaving on a jet plane
(John Denver )
*Interpretada por Bjork e PJ Harvey fica bem melhor
I'm ... I'm ...
All my bags are packed, I'm ready to go
I'm standin' here outside your door
I hate to wake you up to say goodbye
But the dawn is breakin', it's early morn
The taxi's waitin', he's blowin' his horn
Already I'm so lonesome I could die
So kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go
'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go
I'm ...
There's so many times I've let you down
So many times I've played around
I'll tell you now, they don't mean a thing
Every place I go, I think of you
Every song I sing, I sing for you
When I come back I'll wear your wedding ring
So kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go
'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go
Now the time has come to leave you
One more time, oh, let me kiss you
And close your eyes and I'll be on my way
Dream about the days to come
When I won't have to leave alone
About the times that I won't have to say ...
Oh, kiss me and smile for me
Tell me that you'll wait for me
Hold me like you'll never let me go
'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go
And I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
Oh, babe, I hate to go
But I'm leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
Leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
Leaving on a jet plane
(Ah ah ah ah)
....
É isso.
Thursday, June 16, 2005
Só o erro tem vez
Eu queria ser um copista medieval. Poder errar sem ver meu erro, e, errando, criar o novo. Do meu coxo latim, nascer uma língua nova, fazer brotar uma flor do Lácio. Queria que meu erro fosse um fruto que gerasse vida, e não a marca da morte. Por que, afinal, estar sempre certo? Por que escrever certo, mesmo por de linhas tortas? Por que não escrever torto por linhas tortas, errar até o fim. E do fim que nasça um novo mundo, falso, errado, manco e vagabundo, um mundo onde o erro tenha sempre a sua vez.
Erra uma vez
(paulo leminski)
nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez
Erra uma vez
(paulo leminski)
nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez
Ano novo, vida nova?
É, eu poderia considerar meus aniversários (hoje para os infames desavisados) , como marcos de vida nova. Eu poderia começar a fazer isso. Até hoje, no mínimo, uma data festiva. De hoje em diante, quem sabe, apocalipses. Morreres do velho para o nascimento do novo. Preciso matar algo para alimentar minha sede de revolução. Vítimas, mostrem o peito.
Brinde
(José Paulo Paes)
Ano novo: vida
nova
dívidas novas
dúvidas novas
ab ovo outra
vez: do revés
ao talvez (ou
tanto faz como fez)
hora zero: soma
do velho?
idade do novo?
o nada: um ovo
salve(-se) o ano novo!
Brinde
(José Paulo Paes)
Ano novo: vida
nova
dívidas novas
dúvidas novas
ab ovo outra
vez: do revés
ao talvez (ou
tanto faz como fez)
hora zero: soma
do velho?
idade do novo?
o nada: um ovo
salve(-se) o ano novo!
Wednesday, June 08, 2005
Mensagens
Eu sou um cara muito carente. De atenção, de carinho, de juízo. Um dos sintomas principais da minha carência é minha obsessão pelo meu celuar. Algumas pessoas apenas os tem por perto, outras nem ligam para ele, outros ainda não conseguem viver sem ele. Eu sou um caso à parte: eu tenho obsessão pelo meu celular. Não posso ficar longe dele. Sempre fico pensando que alguém vai ligar, que alguém vai mandar mensagem. Na verdade, eu sempre penso que quem faz tudo isso é aquele alguém especial. Mas ligaçõe inesperadas dos amigos, só pra conversar ou chamar pra sair já são o suficiente. Me sinto lembrado. Tenho certeza que ainda estou aqui.
O maior símbolo disso pra mim são as mensagens. Eu vivo esperando uma mensagem. Sabe aquela mensagem que você termina de ler e passa o dia bem, , elétrico, tranquilo, simplesmente FELIZ. Pois é, eu vivo esperando por essa mensagem. Quer me deixar alegre? Me manda uma mensagem. Quer me encantar? Me manda uma mensagem interessante. Quer me ganhar? Me surpreende.
Esclarecimento: para todos aqueles que estão se perguntado "Mas você não devia estar corrigindo redação?"....é, eu também estou me perguntando isso.
O maior símbolo disso pra mim são as mensagens. Eu vivo esperando uma mensagem. Sabe aquela mensagem que você termina de ler e passa o dia bem, , elétrico, tranquilo, simplesmente FELIZ. Pois é, eu vivo esperando por essa mensagem. Quer me deixar alegre? Me manda uma mensagem. Quer me encantar? Me manda uma mensagem interessante. Quer me ganhar? Me surpreende.
Esclarecimento: para todos aqueles que estão se perguntado "Mas você não devia estar corrigindo redação?"....é, eu também estou me perguntando isso.
Poemas para Brincar
Poemas para brincar é o nome de um livro do José Paulo Paes que me marcou quando criança. E olha que naquela época eu nem me dava conta de quem era José Paulo Paes. As ilustrações, feitas por Luiz Maia, também são incríveis. Um ótimo livro para apresentar a poesia ao público infantil. Pra vocês apreciarem, vai aí minha parte predileta:
Alfabeto
Aulas: período de interrupção das férias.
Berro: o som produzido pelo martelo quando bate no dedo da gente.
Caveira: a cara da gente quando a gente não for mais gente.
Dedo: parte do corpo que não deve ter muita intimidade com o nariz.
Excelente: lente muito boa.
Forro: o lado de fora do lado de dentro.
Girafa: bicho que, quando tem dor de gargante, é um deus-nos-acuda.
Hoje: o ontem de amanhã ou o amanhã de ontem.
Isca: cavalo de Tróia para peixe.
Janela: porta de ladrão.
Luz: coisa que se apaga, mas não com borracha.
Minhoca: cobra no jardim-de-infância.
Nuvem: algodão que chove.
Ovo: filho da galinha que foi mãe dela.
Pulo: esporte inventado pelos buracos.
Queixo: parte do corpo que depois de um soco vira queixa.
Rei: cara que ganhou coroa.
Sopapo: o que acontece quando só papo não adianta.
Tombo: o que acontece entre o escorregão e o palavrão.
Urgente: gente com pressa.
Vagalume: besouro guarda-noturno.
Xará: o outro que sou eu.
Zebra: bicho que tomou sol atrás das grades.
Esclarecimento: A série "Fragmentos de um discurso amoroso" volta depois que eu terminar de corrigir duzentas redações em dois dias. Huhu!
Alfabeto
Aulas: período de interrupção das férias.
Berro: o som produzido pelo martelo quando bate no dedo da gente.
Caveira: a cara da gente quando a gente não for mais gente.
Dedo: parte do corpo que não deve ter muita intimidade com o nariz.
Excelente: lente muito boa.
Forro: o lado de fora do lado de dentro.
Girafa: bicho que, quando tem dor de gargante, é um deus-nos-acuda.
Hoje: o ontem de amanhã ou o amanhã de ontem.
Isca: cavalo de Tróia para peixe.
Janela: porta de ladrão.
Luz: coisa que se apaga, mas não com borracha.
Minhoca: cobra no jardim-de-infância.
Nuvem: algodão que chove.
Ovo: filho da galinha que foi mãe dela.
Pulo: esporte inventado pelos buracos.
Queixo: parte do corpo que depois de um soco vira queixa.
Rei: cara que ganhou coroa.
Sopapo: o que acontece quando só papo não adianta.
Tombo: o que acontece entre o escorregão e o palavrão.
Urgente: gente com pressa.
Vagalume: besouro guarda-noturno.
Xará: o outro que sou eu.
Zebra: bicho que tomou sol atrás das grades.
Esclarecimento: A série "Fragmentos de um discurso amoroso" volta depois que eu terminar de corrigir duzentas redações em dois dias. Huhu!
Monday, June 06, 2005
Fragmentos de um discurso amoroso - Abismo e Abraço
Inicio hoje a série "Fragmentos de um discurso amoroso", baseado no livro homônimo de Roland Barthes cuja leitura iniciei também hoje. Desde que o tinha visto escondido no caos do livreiro da universidade, que li seu índice e vi, sem o saber nomear assim, uma "enciclopédia da cultura afetiva" (não são essas as pretensões do autor), surgiu minha compulsão. Mais um elemento da minha vida a sussurar inaudível: "devora-me ou te decifro". Pois, então, depois de um dia de leitura compulsiva e aleatória de seus vários capítulos, fruindo uma leitura meio poética meio acadêmica, decidi-me que iria tentar converter minhas experiências de leitura desse livro, trituradas na máquina-de-moer das minhas vivências, em poemas. É o vício da metalinguagem me atacando novamente. Tomara que não seja mais uma das empreitadas que eu deixo me esperando pelo resto da vida, relegadas a um semi-esquecimento que chega a dar pena.
Abaixo vão o fruto dos dois primeiros capítulos. Desde já digo que os poemas poderão conter citações textuais do livro, como o são os versos "morte livre do morrer", de Abismo, e "criança de pau duro", de Abraço.
Abismo
Fixa-me o abismo,
morte livre do morrer.
De mágoa, ou de fusão,
torno-me difuso,
plúmbea manhã.
Caio do Imaginário
na tumba comum das paixões
e vou-me ao além
que não é o outro.
Penso e desejo uma
morte livre do morrer.
Abraço
Abraçado a minha amada
(re)encontro os prazeres do ventre:
acolhe-me como mãe e minha mulher.
Eu, Eros,
criança de pau duro,
entrevejo a plenitude
e quero mais.
Abaixo vão o fruto dos dois primeiros capítulos. Desde já digo que os poemas poderão conter citações textuais do livro, como o são os versos "morte livre do morrer", de Abismo, e "criança de pau duro", de Abraço.
Abismo
Fixa-me o abismo,
morte livre do morrer.
De mágoa, ou de fusão,
torno-me difuso,
plúmbea manhã.
Caio do Imaginário
na tumba comum das paixões
e vou-me ao além
que não é o outro.
Penso e desejo uma
morte livre do morrer.
Abraço
Abraçado a minha amada
(re)encontro os prazeres do ventre:
acolhe-me como mãe e minha mulher.
Eu, Eros,
criança de pau duro,
entrevejo a plenitude
e quero mais.
Sunday, June 05, 2005
Devora-me ou te decifro
Todo, todo cambia.
Minha sina foi ser copista.
Ou não.
Sinto falta de carinho. Porra, sinto falta de carinho seu.
"- Que trazes em teus olhos,
negro e solene?
- Meu pensamento triste
que sempre fere."
Devora-me ou te decifro.
Minha sina foi ser copista.
Ou não.
Sinto falta de carinho. Porra, sinto falta de carinho seu.
"- Que trazes em teus olhos,
negro e solene?
- Meu pensamento triste
que sempre fere."
Devora-me ou te decifro.
Friday, June 03, 2005
Karma poético
Paulo Leminski deve ser meu karma poético. Tantos poemas conseguem me tocar, me entender, me consolar, me doer. Os poemas de leminski são minhas amantes à noite, me mantendo acordado ou sonolento, abatido ou revigorado. Tento penetrar pela carne de suas palavras, às vezes falho, às vezes me repelem. Mas, ah!, a explosão de prazer, ínfimos contatos da alma, quando dentro deles consigo estar.
Ais ou menos
(oração pela descrença)
Senhor,
peço poderes sobre o sono
esse sol em que me ponho
a sofrer meus ais ou menos,
sombra quem sabe, dentro de um sonho.
Quero forças para o salto
do abismo onde me encontro
ao hiato onde me falto.
Por dentro de mim, a pedra,
e, aos pés da pedra,
essa sombra, pedra que se esfalfa.
Pedra, letra, estrela à solta
sim, quero viver sem fé,
levar a vida que falta
sem nunca saber quem é.
Ais ou menos
(oração pela descrença)
Senhor,
peço poderes sobre o sono
esse sol em que me ponho
a sofrer meus ais ou menos,
sombra quem sabe, dentro de um sonho.
Quero forças para o salto
do abismo onde me encontro
ao hiato onde me falto.
Por dentro de mim, a pedra,
e, aos pés da pedra,
essa sombra, pedra que se esfalfa.
Pedra, letra, estrela à solta
sim, quero viver sem fé,
levar a vida que falta
sem nunca saber quem é.
Thursday, June 02, 2005
Essa língua portuguesa
Frase da semana:
"Hull emprega o constructo hipotético-dedutivo da resposta fracionada antecipatória ao excitante-finalidade como mediador, atribuindo às respostas fracionadas a capacidade de produzir estímulos, internamente. Os erros de datilografia, para Hull, são, usualmente, do tipo antecipatório."
E eu me pergunto: por que não?
Palavra da semana:
Mandriice: preguiça à moda antiga. Imaginem como era ficar sem nada pra fazer lá nos idos de 1800, sem essa correria de hoje. Tempo para cochilar depois do almoço, ver a grama crescer, namorar numa rede assistindo ao pôr-do-sol. Ah, a mandriice devia ser uma delícia. Hoje, nem pra preguiça se tem tempo. Portanto, da próxima vez que você estiver curtindo seu momento mais do que necessário de ócio e alguém lhe chamar de preguiçoso ou vagabundo, entorte a cabeça do salafrário respondendo:
- Preguiçoso, não, mandrião!
"Hull emprega o constructo hipotético-dedutivo da resposta fracionada antecipatória ao excitante-finalidade como mediador, atribuindo às respostas fracionadas a capacidade de produzir estímulos, internamente. Os erros de datilografia, para Hull, são, usualmente, do tipo antecipatório."
E eu me pergunto: por que não?
Palavra da semana:
Mandriice: preguiça à moda antiga. Imaginem como era ficar sem nada pra fazer lá nos idos de 1800, sem essa correria de hoje. Tempo para cochilar depois do almoço, ver a grama crescer, namorar numa rede assistindo ao pôr-do-sol. Ah, a mandriice devia ser uma delícia. Hoje, nem pra preguiça se tem tempo. Portanto, da próxima vez que você estiver curtindo seu momento mais do que necessário de ócio e alguém lhe chamar de preguiçoso ou vagabundo, entorte a cabeça do salafrário respondendo:
- Preguiçoso, não, mandrião!
Tuesday, May 31, 2005
David lynchou minha mente
Resultados da maratona David Lynch de filmes: "Essa é uma jaqueta de couro de cobra. Ela representa minha individualiade e minha crença na liberdade pessoal"
"Agora está escuro"
"Bata em mim!"
"Eu não tive orientação materna ou paterna"
"Mantenha-se vivo por amor a Van Gogh"
"O medo mata a mente"
"Não nos conhecemos de algum outro lugar?"
"In dreams I walk with you"
"She wore bluuuuuuuue velvet"
"Love me tender" (cantada com o nariz quebrado em cima de um capô de carro)
Resultados de conversas filosóficas + icekiss:
"De acordo com a mecânica newtoniana, a vida é doce e gostosa" (em parceria com raphael)
"Agora está escuro"
"Bata em mim!"
"Eu não tive orientação materna ou paterna"
"Mantenha-se vivo por amor a Van Gogh"
"O medo mata a mente"
"Não nos conhecemos de algum outro lugar?"
"In dreams I walk with you"
"She wore bluuuuuuuue velvet"
"Love me tender" (cantada com o nariz quebrado em cima de um capô de carro)
Resultados de conversas filosóficas + icekiss:
"De acordo com a mecânica newtoniana, a vida é doce e gostosa" (em parceria com raphael)
Sunday, May 29, 2005
Jobim me surpreende pela manhã
Água de Beber
(Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Morais)
Eu quis amar mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o coração
Água de beber
Água de beber, camará
Eu nunca fiz coisa tão certa
Entrei pra escola do perdão
A minha casa vive aberta
Abri todas as portas do coração
Eu sempre tive uma certeza
Que só me deu desilusão
É que o amor é uma tristeza
Muita mágoa demais
Para um coração.
Alguém sabe o endereço dessa "escola do perdão"?
(Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Morais)
Eu quis amar mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o coração
Água de beber
Água de beber, camará
Eu nunca fiz coisa tão certa
Entrei pra escola do perdão
A minha casa vive aberta
Abri todas as portas do coração
Eu sempre tive uma certeza
Que só me deu desilusão
É que o amor é uma tristeza
Muita mágoa demais
Para um coração.
Alguém sabe o endereço dessa "escola do perdão"?
Que tal um pouco de felicidade?
AUTO- CENSURADO. ME RESERVO O DIREITO DE NÃO DAR EXPLICAÇÕES.
O que eu escrevo cada vez me faz mais sentido:
Felicidade então pra nós seria
Se a chama fosse fria,
Se o risco não houvesse,
Se voar fosse possível,
Se cair não machucasse,
Se a luz fosse verdade,
E a comunhão existisse,
Felicidade então pra nós seria
Mais que vontade.
Mas meu coração se queima em incêndios,
Vende a alma na loteria,
Voa prevendo a queda,
Cai no chão como se não houvesse,
Enche-se de escuridão
E à noite dorme sozinho.
Felicidade então pra nós será
Apenas vontade.
O que eu escrevo cada vez me faz mais sentido:
Felicidade então pra nós seria
Se a chama fosse fria,
Se o risco não houvesse,
Se voar fosse possível,
Se cair não machucasse,
Se a luz fosse verdade,
E a comunhão existisse,
Felicidade então pra nós seria
Mais que vontade.
Mas meu coração se queima em incêndios,
Vende a alma na loteria,
Voa prevendo a queda,
Cai no chão como se não houvesse,
Enche-se de escuridão
E à noite dorme sozinho.
Felicidade então pra nós será
Apenas vontade.
Wednesday, May 25, 2005
O astronauta vesgo
Começar a pagar as promessas. Não vou comentar o poema "Esse nosso velho amigo, o tempo" hoje não. Mais tarde eu faço pose de crítico literário ou de intelectual problemático. Por agora, um pouco de sessão retrô. Taí um poema que talvez seja o melhor que eu já escrevi até hoje. Claro que eu não percebi isso durante um tempão, apesar de um amigo letrado ter me apontado ele como um dos meus melhores. Ele tem uma simplicidade jocosa meio José Paulo Paes (foi influência direta) com uma reflexão interessante sobre a vida. É o máximo que consigo dizer sobre ele agora. Curtam.
O astronauta vesgo
Gagárin não viu,
mas o mundo gira torto.
É a obliquidade da alma
que faz todo homem coxo.
O astronauta vesgo
Gagárin não viu,
mas o mundo gira torto.
É a obliquidade da alma
que faz todo homem coxo.
Monday, May 23, 2005
Onde andará Mr. Despair?
A primeira vez que vi Mr. Despair ele estava sentado na cadeira giratória do meu quarto. É claro que naquela época meu quarto não tinha poltrona giratória, mas lá estava ele. Eu tinha acabado de chegar de uma festa, a escuridão da madrugada não me deixava divisar o rosto dele, só suas longas pernas apoiadas na minha cama tinham relevo. A pouca luz que as janelas do meu quarto deixavam entrar me descotinava um pedaço de ombro nu.
Quando penso em Mr. Despair, imagino logo seus pés e seu ombro, singelo ombro. Sua presença era uma nuvem quente que ocupava meu quarto. Ele não iria sair de lá. Um suspiro longo confirmou sua presença, e o barulho sutil de uma garrafa sendo erguida do chão delatou seu gesto. Um gole longo, a nuvem quente se espessou.
Fechei a porta devagar, como sempre faço, e minha mão já quase estava no interruptor do ventilador de teto quando ele falou:
- Não ligue, por favor. Está bem assim.
A voz de Mr. Despair não soou rouca, profunda, áspera ou de qualquer modo calejada. Era uma voz suave, porém forte, e a nuvem quente se tornou ácida com seu hálito. Era uma voz cultivada para a mansidão, que se ouvia pouco, guardando-se para as horas certas: gritos alucinados, risadas contidas, e confissões ao pé do ouvido.
Tirei minha camisa, meus tênis, minhas meias, com a pressa e embriaguez de um fim de noite. Sentei-me na cama, encostei-me nas amolfadas, uma perna jogada para fora, a cabeça recostada num dos braços. Comecei a fechar os olhos, descansar a vista, para poder me acostumar àquela escuridão.
Minhas janelas vacilaram e a luz da madrugada começava a romper a aura de sombras de Mr. Despair. Vi seu rosto: firme, sólido, resoluto. Os olhos me feriram ao refletir a luz. Eram de uma cor que só a escuridão saberia dizer. Seu tronco estava nu, e era de poucos pêlos. A garrafa era uma vodca barata.
A nuvem quente me obrigou tirar minhas calças e ficar nu. Deitei, a madrugada começava a pesar nos meus olhos. Mr. Despair se despediu suspirando:
- Está certo. Podemos começar.
Vladimir lê: Onde andará Dulce Veiga?, de Caio Fernando Abreu.
Quando penso em Mr. Despair, imagino logo seus pés e seu ombro, singelo ombro. Sua presença era uma nuvem quente que ocupava meu quarto. Ele não iria sair de lá. Um suspiro longo confirmou sua presença, e o barulho sutil de uma garrafa sendo erguida do chão delatou seu gesto. Um gole longo, a nuvem quente se espessou.
Fechei a porta devagar, como sempre faço, e minha mão já quase estava no interruptor do ventilador de teto quando ele falou:
- Não ligue, por favor. Está bem assim.
A voz de Mr. Despair não soou rouca, profunda, áspera ou de qualquer modo calejada. Era uma voz suave, porém forte, e a nuvem quente se tornou ácida com seu hálito. Era uma voz cultivada para a mansidão, que se ouvia pouco, guardando-se para as horas certas: gritos alucinados, risadas contidas, e confissões ao pé do ouvido.
Tirei minha camisa, meus tênis, minhas meias, com a pressa e embriaguez de um fim de noite. Sentei-me na cama, encostei-me nas amolfadas, uma perna jogada para fora, a cabeça recostada num dos braços. Comecei a fechar os olhos, descansar a vista, para poder me acostumar àquela escuridão.
Minhas janelas vacilaram e a luz da madrugada começava a romper a aura de sombras de Mr. Despair. Vi seu rosto: firme, sólido, resoluto. Os olhos me feriram ao refletir a luz. Eram de uma cor que só a escuridão saberia dizer. Seu tronco estava nu, e era de poucos pêlos. A garrafa era uma vodca barata.
A nuvem quente me obrigou tirar minhas calças e ficar nu. Deitei, a madrugada começava a pesar nos meus olhos. Mr. Despair se despediu suspirando:
- Está certo. Podemos começar.
Vladimir lê: Onde andará Dulce Veiga?, de Caio Fernando Abreu.
Friday, May 20, 2005
Yes, I'm Mad About You!
The Final Frontier
(Anita Baker)
Tell me why
I love you like I do,
Tell me who
can stop my heart
as much as you,
Tell me all your secrets, and I'll
tell you most of mine,
They say nobody's perfect,
well, thats really true this time
I dont have the answers,
I dont have a plan
All I have is you,
So darling, help me understand
(What we do) - you can whisper in my ear
(Where we go) - who knows what happens after here
Let's take each other's hand as we jump
in to the Final Frontier
I'm mad about you baby,
Mad About You...
Comprei o box de DVD do Mad About You! 21 episódios para eu assistir quando estiver na fossa e ficar mais na fossa desejando ser o casal mais foda que já vi na ficção televisiva. Neuróticos, engraçados, auto-críticos, enrolados, problemáticos, complexados: tudo que eu queria ser quando crescesse.
Aguardem! Em breve, maratona Mad About You aqui em casa! Nem todos estão convidados (tão pensando o quê? Que minha casa é a casa da mãe Joana? Que cabe todo mundo aqui? Desentrosa, cambada de malandro!).
Depois tem mais poesia!
(Anita Baker)
Tell me why
I love you like I do,
Tell me who
can stop my heart
as much as you,
Tell me all your secrets, and I'll
tell you most of mine,
They say nobody's perfect,
well, thats really true this time
I dont have the answers,
I dont have a plan
All I have is you,
So darling, help me understand
(What we do) - you can whisper in my ear
(Where we go) - who knows what happens after here
Let's take each other's hand as we jump
in to the Final Frontier
I'm mad about you baby,
Mad About You...
Comprei o box de DVD do Mad About You! 21 episódios para eu assistir quando estiver na fossa e ficar mais na fossa desejando ser o casal mais foda que já vi na ficção televisiva. Neuróticos, engraçados, auto-críticos, enrolados, problemáticos, complexados: tudo que eu queria ser quando crescesse.
Aguardem! Em breve, maratona Mad About You aqui em casa! Nem todos estão convidados (tão pensando o quê? Que minha casa é a casa da mãe Joana? Que cabe todo mundo aqui? Desentrosa, cambada de malandro!).
Depois tem mais poesia!
Wednesday, May 18, 2005
Esse nosso velho amigo, o tempo
Vou começar postando alguns poemas que escrevi nesses últimos cinco meses. Eu já fui "escrevedor" de poemas compulsório. Na adolescência, eu era perito em fazer poemas de amor totalmente piegas. Quando fiz a última faxina no meu quarto, joguei a grande maioria fora. Isso pra quem tinha umas cem páginas com poemas escritos. Ainda tenho em casa alguns mais aproveitáveis dessa época e outras coias que escrevi ao longo do tempo. Depois da universidade e do contato com alguns autores mais moderninhos, saí da pieguice e fui prum experimentalismo devaneante que produziu muita poema ruim. Só uns dois anos atrás eu consegui produzir algo que ainda hoje me dê orgulho. Mesmo assim, são muito poucos os que passam ilesos pela minha auto-crítica. Eu exijo muito de mim mesmo. Não me contento com pouco.
Esse nosso velho amigo, o tempo
O tempo, esse nosso velho amigo,
que nos embala, filhos a dormir,
pelo sono da vida afora,
só ele, o tempo,
é que pode nos dizer
com a voz acalentadora das mães
que será de nós.
O tempo, esse nosso velho amigo,
tão próximo que não ser pode tocado,
é quem nos ensina apaixonado
os caminhos da desilusão.
O tempo, esse nosso velho amigo,
que nunca deixará de ser
nosso eterno e amável carrasco.
Quando eu estiver com mais paciência eu faço a minha crítica ao poema...E tento explicá-lo também....
P.S.: O problema dos comentários foi resolvido, já podem comentar sem medo de ser feliz. Foi só fazer umas alterações nas definições aqui.
Esse nosso velho amigo, o tempo
O tempo, esse nosso velho amigo,
que nos embala, filhos a dormir,
pelo sono da vida afora,
só ele, o tempo,
é que pode nos dizer
com a voz acalentadora das mães
que será de nós.
O tempo, esse nosso velho amigo,
tão próximo que não ser pode tocado,
é quem nos ensina apaixonado
os caminhos da desilusão.
O tempo, esse nosso velho amigo,
que nunca deixará de ser
nosso eterno e amável carrasco.
Quando eu estiver com mais paciência eu faço a minha crítica ao poema...E tento explicá-lo também....
P.S.: O problema dos comentários foi resolvido, já podem comentar sem medo de ser feliz. Foi só fazer umas alterações nas definições aqui.
Monday, May 16, 2005
Plágio fundador
"de ilusão em ilusão
até a desilusão
é um passo sem solução
um abraço
um abismo
um
soluço
adeus a tudo que é bom
quem parece são não é
e os que não parecem são"
LUZ VERSUS LUZ, P. leminski: PLÁGIO fundador do De Ilusão em Ilusão.
Depois de uma revolução, depois de uma decepção, depois da esculhambação, chegou a hora da criação. Yeah, babe, minha vida dá sinal de ter se superado novamente: minha criatividade está voltando. Depois de uma tentativa frustrada de fazer um fotolog, eu finalmente me convenci de que minha criatividade plástica é extremamente limitada. E agora aqui estou, um pouquinho mais maduro e muito mais chato, dando início a mais um projeto.
Não tou nem um pouco afim de fazer um texto do tipo "Meu primeiro blog". Vou explicar o nome e depois começo a postar o que interessa. "De ilusão em ilusão até a desilusão" é uma frase que tem ecoado em mim depois das reviravoltas que minha vida deu recentemente. Deixei de acreditar piamente nos meus sentimentos, nas minhas palavras, nas minhas idéias, nas minhas ações. Em toda verdade, mora uma mentira. Em todo amor, reside um ódio. Mas nem por isso deixei de senti, de falar, de pensar e de agir. Vou "de ilusão em ilusão", um hedonista gozando cada mentira, cada verdade, cada amor, cada ódio. Ainda acredito num Sad (Sal) Paradise. Um dia ainda chego lá, onde ações, idéias, palavras e sentimentos ganharão novamente sentido. Lá, onde mora a desilusão.
triste paraíso
anjo e demônio
te persigo
até a desilusão
é um passo sem solução
um abraço
um abismo
um
soluço
adeus a tudo que é bom
quem parece são não é
e os que não parecem são"
LUZ VERSUS LUZ, P. leminski: PLÁGIO fundador do De Ilusão em Ilusão.
Depois de uma revolução, depois de uma decepção, depois da esculhambação, chegou a hora da criação. Yeah, babe, minha vida dá sinal de ter se superado novamente: minha criatividade está voltando. Depois de uma tentativa frustrada de fazer um fotolog, eu finalmente me convenci de que minha criatividade plástica é extremamente limitada. E agora aqui estou, um pouquinho mais maduro e muito mais chato, dando início a mais um projeto.
Não tou nem um pouco afim de fazer um texto do tipo "Meu primeiro blog". Vou explicar o nome e depois começo a postar o que interessa. "De ilusão em ilusão até a desilusão" é uma frase que tem ecoado em mim depois das reviravoltas que minha vida deu recentemente. Deixei de acreditar piamente nos meus sentimentos, nas minhas palavras, nas minhas idéias, nas minhas ações. Em toda verdade, mora uma mentira. Em todo amor, reside um ódio. Mas nem por isso deixei de senti, de falar, de pensar e de agir. Vou "de ilusão em ilusão", um hedonista gozando cada mentira, cada verdade, cada amor, cada ódio. Ainda acredito num Sad (Sal) Paradise. Um dia ainda chego lá, onde ações, idéias, palavras e sentimentos ganharão novamente sentido. Lá, onde mora a desilusão.
triste paraíso
anjo e demônio
te persigo
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